A eleição de Barack Obama ressuscitou o famoso lema bem conhecida dos brasileiros – “a esperança venceu o medo” – quando da eleição de Luís Inácio Lula da Silva. Na verdade, tanto esta como aquela eleição tem algo em comum, qual seja a solução engenhosamente arquitetada pela classe dominante para barrar algum processo social que vislumbre ameaçar o sistema capitalista. No caso brasileiro o remédio foi eficaz numa conjuntura em que a classe trabalhadora, após 20 anos de ditadura militar e mais de uma década de neoliberalismo desenfreado, ansiava por transformação e justiça social.
Coube ao metalúrgico sindicalista, afeito à luta dos trabalhadores no ABC paulista, incorporar a tarefa a princípio complexa, depois não tanto, de aquietar a efervescência social em curso com vistas a por fim de uma vez por todas a uma das maiores concentrações de renda do planeta e a consertar o desumano Brasil até então forjado pelos governantes corruptos assentados no modo de produção capitalista.
Após seis anos de mandato do governo Lula, pode-se avaliar com segurança que a relação dos movimentos sociais e sindicatos – mais particularmente os ligados à CUT – com o governo federal é de um perigoso alinhamento. De fato, a partir do momento em que os movimentos deixam de priorizar os problemas sociais e a organização dos trabalhadores, e passam a ser “correia de transmissão” do governo na aplicação de políticas que não interessam à grande maioria do povo brasileiro, é porque algo de muito errado está acontecendo.
Sem entrar em detalhes, por justificar outro artigo, podemos afirmar que em geral as políticas econômicas em curso no Brasil favorecem delibera-damente a elite empresarial e financeira. Na verdade, o País continua a ser campeão em concentração de renda, com nível de criminalidade maior que qualquer país em guerra civil no mundo e grau de injustiça social de tal monta que denunciam a hipocrisia dos índices macroeconômicos da mídia doméstica governista e das falácias sorridentes dos governantes de plantão.
Um aspecto importante da era “democrática”, atualmente, é a perseguição aos sindicatos, associações e trabalhadores que têm resistido a esse alinhamento entreguista de natureza neoliberal. Como exemplos de organizações dos trabalhadores quais tem sido alvo desse ataque descabido citamos o Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDES-SN); o sindicato dos rodoviários do Amapá; os trabalhadores em transporte rodoviário e da construção civil, ambos de Fortaleza; e os movimentos sociais vítimas da vergonhosa cruzada de criminalização, a exemplo dos ataques ao MST e da sua justa e incansável luta pela Reforma Agrária etc. As demissões de lideranças como as de Dirceu Travesso, da Nossa Caixa; de William, do Banco do Brasil, líder da Oposição Bancária em São Paulo; dos onze diretores do Sindicato dos Rodoviários do Amapá; e ameaças de demissão em curso como a de Wagner Jacinto, do BNB, são casos irrefutáveis do “modus operandi” dos governos a quem se contrapõe ao “status quo”.
Como a esperança venceu o medo se o Estado, direta ou indiretamente, ainda intervém nas organizações dos trabalhadores para barrar-lhes a autonomia e a independência? O último lance deste ataque foi desferido contra a AFBNB – a Associação dos Funcionários do Banco do Nordeste do Brasil, quando no recente processo eleitoral, “gestores” do banco se uniram a dirigentes sindicais ligados à CONTRAF-CUT na tentativa de mudar a postura firme da Associação em defesa dos trabalhadores do BNB, na perspectiva de neutralizá-la e conduzi-la à conciliação de classes, a exemplo do que praticam em seus sindicatos. O objetivo era óbvio: calar a entidade que tem denunciado o assédio moral, o trabalho gratuito, a falta de transparência no BNB, os salários baixos, a omissão da Direção do Banco na defesa intransigente do BNB, que neste exato momento é ameaçado de incorporação ao Banco do Brasil. A bem da verdade dos fatos, registre-se que a maioria dos gestores do banco não se curvou a esta tentativa de arrancar a atual diretoria de seu direito de criticar e denunciar. Parabéns aos trabalhadores do BNB que souberam dar a resposta inteligente e não se intimidaram frente à pressão de toda sorte perpetrada por esses “gestores” que perderam a noção de limite entre a ação institucional do BNB, na qualidade de braço do Estado, e o devido respeito à livre organização dos trabalhadores.
* Assis Araújo é diretor da AFBNB |