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14/09/2011

Nossa Voz - Por ética e democracia nas relações de trabalho

Por uma ética universal

O Nossa Voz entrevistou o Professor Doutor em Filosofia, Fábio Maia Sobral - palestrante da 40ª RCR. Ele fala sobre ética, justiça, violência e a relação com o modelo de sociedade que construímos. 

AFBNB - Por que é polêmico falar de ética e democracia nos dias atuais?

Fábio Maia Sobral - É polêmico porque há um consenso geral de atribuir posturas individuais à ética. A atitude dos indivíduos na verdade se refere à moral. Moral é aquela atitude individual que as pessoas têm diante dos fatos, como ela julga que deve se comportar; a ética envolve não só atitudes individuais mas as instituições, o modo como a vida está organizada e todas as características sociais que estamos vivendo. Então as pessoas falam de ética sem saber exatamente. É preciso lançar polêmica nisso, porque não se trata simplesmente de bondade ou maldade humana intrínseca; se trata dizer que temos uma sociedade organizada para a concorrência, para o conflito, a guerra – seja bélica ou comercial – e na guerra vale o ardil, a astúcia, a capacidade de ludibriar e de passar a frente do outro por meios ardilosos. As relações entre os países, entre as empresas, entre o conjunto da sociedade e suas classes foram  construídas para o conflito, para a destruição e para a dominação de um sobre o outro. Como exigir ética de uma pessoa individualmente quando se está num mar de uma sociedade profundamente egoísta e dominadora onde o que vale é, para a sobrevivência, a capacidade de ser mais agressivo do que o outro?

AFBNB - É possível compartimentalizá-la? Falar da ética na política, ética nas relações de trabalho?
 
FMS - Não é possível compartimentalizá-la. Por isso que na palestra perguntei “qual o tamanho da sua casa, da nossa casa?”. Ela se encerra no meu corpo, só contém aqueles que estão próximos a mim? Ou ela contém a humanidade? A partir daí você constrói uma ética dependendo do que você acredita o que é a sua casa. Mas nós vivemos numa época terrível e maravilhosa ao mesmo tempo, porque pela primeira vez ficou difícil justificar – não quer dizer que as pessoas não justifiquem, basta lembrar do caso da Noruega – que os seres humanos são essencialmente diferentes. Os seres humanos são essencialmente iguais! Temos diferenças superficiais, culturais, mas como espécie somos iguais. Cabe construir uma ética que seja a nossa casa, o nosso planeta, onde não é possível suportar tranquilamente que uma pessoa passe fome. Você tem uma responsabilidade.

AFBNB - Mas a gente vive em um sistema que prega justamente o contrário, o individualismo, que é o capitalismo/neoliberalismo. Existiria alguma ética no capitalismo?

A ética do modelo é pregar o individualismo. Ele considera a sua casa o mundo dos negócios, o comércio, os lucros. Ele tem uma ética, a ética que é adequada ao seu tempo. É como a justiça; não existe justiça que não seja adequada à sua época. Quando você diz que vestiu algo que ficou justo quer dizer que coube perfeitamente, não sobrou e nem faltou. Existem justiça e ética no capitalismo. Mas são essas justiça e ética que queremos? É possível ainda falar sobre isso ou só é possível aceitar? A filosofia foi sempre falar de forma incômoda, sofreu inclusive ao longo do tempo perseguições. Temos que falar sobre o que nos incomoda. Chamamos justo a uma coisa que cabe, mas será que essa é a nossa roupa?

AFBNB - Estamos em uma época de isolamento, de saídas equivocadas... Quer combater a violência? Cursos de defesa pessoal israelense, para adultos e crianças! O que fazer? É não se deixar anestesiar por essa realidade?

Tem o pensamento judeu do século XIX e XX que contém Marx, Freud, Martin Gumber, Edmund Rossel, Einstein, uma série de grandes nomes do pensamento. O que o pensamento judeu têm a oferecer hoje à humanidade? O krav magar? A perspectiva é exatamente construir mecanismos de agressividade, responder a violência com a violência. Mas a grande violência que nós sofremos, que produz a violência cotidiana, é a violência da desigualdade de condições de vida entre os seres humanos, a violência tende a se expandir, é incômodo mas é preciso ser dito porque você tem um número de bilionários crescente para bilhões de pessoas entrando na miséria e isso irá produzir violência de diversas formas. O que fazer? Não cabe aí uma solução imposta por alguém. Pela primeira vez estamos na condição de que não devemos aceitar que outros nos digam o que fazer. Na verdade o papel hoje do próprio pensamento em todas as áreas é chamar as pessoas a discutirem e refletirem porque aí nós iremos produzir uma força enorme de pessoas pensando sobre como reestruturar a nossa vida no planeta. Nós fomos capazes de resistir a diversos traumas de mudanças ecológicas e a espécie humana sobreviveu. Nós iremos sobreviver, seremos capazes de alterar nossa forma de vida para sobreviver ao colapso ecológico, social e econômico que se avizinha? Ou nós preferiremos aceitar que o mundo seja dirigido para as finanças pessoais de um pequeno grupo de bilionários? É isso que nós queremos? Na verdade não é a era das respostas, mas das perguntas incômodas.
Última atualização: 30/11/-0001 às 00:00:00
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