*Antônio Ibiapino
O Banco do Nordeste tem por objetivo fomentar o desenvolvimento econômico da região e de toda a sua área de atuação. Tal missão é bastante difícil, se levados em consideração o atraso secular da região, suas características climáticas e também sua cultura política arcaica, coronelista, representada por oligarquias e por uma elite inescrupulosa. Ao mesmo tempo não se torna difícil se levadas em consideração as potencialidades, a capacidade e a bravura do povo nordestino, entre outros elementos, bem como a competência e a dedicação do quadro de pessoal, o qual historicamente tem contribuído de forma decisiva para o cumprimento da missão institucional do BNB. Para ilustrar um pouco a situação, uma pesquisa do Banco Mundial e publicada pelo Jornal Diário do Nordeste mostra que, no Ceará, cerca de 57% dos habitantes viviam abaixo da linha da pobreza e que 34,2% eram analfabetos; outro trabalho apresentado pelo então senador Lúcio Alcântara - “Fome no Brasil” - mostra a situação de miséria no Brasil e especialmente no Nordeste e cita que em 1946 Josué de Castro publicava obra considerada marco sobre o tema: Geografia da Fome.
Trinta anos se passaram até a realização de um inquérito nacional sobre as condições de vida, alimentação e nutrição. Em 1974/1975, o IBGE produziu o Estudo Nacional de Despesa Familiar, que conclui, mais uma vez, pelo estado crítico da alimentação no Brasil. Conforme os resultados, dois terços da população não alcançavam o patamar de 2.240 calorias/dia, recomendado pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação e pela Organização Mundial de Saúde.
Não há nenhuma dúvida de que a situação de miséria no país e, por conseguinte, no Nordeste é grave e continua. Portanto, para tentar atenuá-la é necessário levar em conta o reflexo da realidade objetiva da região para que ele sirva de guia para as ações do Banco do Nordeste. Daí resulta num trabalho criterioso, eficaz e austero. Outro elemento fundamental consiste no aprimoramento da democracia, algo que somente será possível se houver diálogo entre o banco e a sociedade organizada, especialmente com os sindicatos e a associação dos funcionários do banco. Caso a direção do Banco entenda que esses setores são inteligentes, responsáveis e úteis à pátria, então pode compreender que são capazes de oferecer sugestões para bem aplicar os recursos e práticas para um desenvolvimento sustentável. Isso é democracia no seu verdadeiro sentido; Cabe aos partidos do campo democrático e popular, principalmente o PT, aprofundar esse momento histórico para aperfeiçoá-la.
A Filosofia da Práxis nos ensina que é preciso somar a teoria contida na cabeça dos técnicos e a prática do dia a dia. Pois bem: estão ouvindo e valorizando os nossos técnicos? Que projetos deram certos? Que projetos não deram? As entidades representativas dos funcionários têm acesso a esses dados? Foi-lhes dada oportunidade de refletir e fazer sugestões? Ou nada disso é possível?
O Banco é uma redoma intransponível e as entidades de classes são apenas ajuntamento de protestantes. Caso seja essa a tese, os partidos, principalmente o PT, as centrais sindicais, principalmente a CUT, assim como outras organizações de classes erraram na análise e suas existências e deixaram de ser necessários. |