Após 33 dias, retornamos de uma greve histórica e por que não dizer vitoriosa. Agradeço de coração àqueles que acreditam que os frutos a serem colhidos no futuro dependem do que estamos plantando agora.
Vários foram os motivos que me levaram a tomar a decisão de aderir à greve: a luta foi de interesse coletivo e o resultado dependia do índice de participação; estávamos todos respaldados pelo direito de greve; minha consciência não me permite fugir quando a causa é nobre e, sobretudo, por conta deste trecho: “todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta constituição”.
Esse princípio, que está no parágrafo único do art. 1º da Constituição Federal do Brasil (CF/88), introduz no país o Estado Democrático de Direito, que combina procedimentos da democracia representativa (eleições) e da democracia participativa (direta).
Na verdade fomos todos - a partir da tentativa de desmonte da nação implementada pelo governo FHC - induzidos à omissão em relação às lutas, a nos acovardar diante do assédio moral e da compra de consciência e inclusive a achar que a resolução dos nossos problemas é de responsabilidade dos outros.
Faço uma analogia à frase de Rui Barbosa: "De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”.
Por esse motivo, não guardo ressentimento dos colegas que não aderiram à greve. Lembrando que a vejo em três dimensões: simbólica, econômica e cidadã. Simbólica porque deixou sua marca no trem da história; demonstra que o nordestino ainda traz suas características de povo aguerrido que não se entrega sem luta e porque teve participação significativa de mulheres, demonstrando a igualdade de gênero no processo de conquista. Econômica porque buscou a reparação de perda salarial. E cidadã porque demonstrou mais do que nunca o espírito coletivo dos companheiros de luta que buscaram não somente a conquista dos interesses pessoais, mas também assegurar conquistas a todos porque remeteu a todos a reflexões em relação a direitos usurpados, a necessidade de luta cotidiana, proporcionou a integração e despertou vários potenciais.
Todas estas considerações foram feitas devido a argumentos de alguns colegas afirmando que a minha participação na greve não fazia a menor diferença para os resultados, enquanto outros disseram que era melhor “pintar a cara” pois tomavam esta minha decisão como palhaçada ou passavam para clientes o número do meu celular instigando a ligar e me desestimular em relação à continuidade na luta. Houve até quem realizasse algumas de minhas tarefas numa demonstração de que a rotina da agência pode ser a mesma sem mim.
Tenho convicção plena de que a minha participação fez diferença sim. E se os resultados não foram mais positivos foi por conta da omissão de outros, não da minha. Sobre pintar a cara, até o faria se fosse preciso - quem não se lembra dos cara-pintadas? - além do que às vezes as pinturas no próprio corpo funcionam como simbologia e forma de expressão (meus antepassados índios que o diriam).
Agradeço imensamente a quem repassou meu telefone aos clientes, pois isso me possibilitou sensibilizá-los sobre a necessidade da luta e torná-los meus apoiadores e, sobretudo, me proporcionou o sentimento de não estar só, pois vários clientes estiveram de alguma forma comigo.
Cumprimento e agradeço a participação efetiva do SEEB-MOC. Para a AFBNB segue um trecho do livrinho do Klévisson
* Marilene Mont’Alto
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