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01/09/2009 |
Nossa Voz - O indispensável papel do Agente de Desenvolvimento |
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Entrevista: ?É preciso lutar, lutar e lutar? |
O Nossa Voz conversou com o presidente do Sindicato dos Bancários da Bahia, Euclides Fagundes Neves. Além de militante histórico, Euclides é um pesquisador da história do movimento sindical bancário. No ano passado foi publicada a edição revisada e atualizada de uma de suas obras - Bancos, Bancários e Movimento Sindical - livro que serve de fonte de pesquisa para os interessados no assunto.
No seu livro você faz um resgate do movimento sindical a partir do final do século XIX. Quais as características intrínsecas do movimento dos trabalhadores bancários que você considera inalteradas ao longo desse tempo?
A primeira questão é que a exploração continua. O capitalismo permanece atrás do lucro e a exploração continua. Nos bancos, a luta que naquele tempo era pela redução da jornada de trabalho, continua; hoje, com a internacionalização do trabalho se coloca muito a questão do assédio moral, da superexploração. Mudou-se um pouco as palavras, mas as reivindicações de um modo geral continuam as mesmas.
A categoria bancária já representou em outros momentos a força dos trabalhadores, quando era símbolo de resistência, luta e conquistas. Dela saíram grandes líderes . Hoje a impressão é de que não é mais dessa forma...
A luta no movimento bancário é uma luta muito importante. É um exemplo de luta nacionalmente. Os bancários desde a década de 30 já se organizavam nacionalmente. Fizeram greves, fundaram sindicatos. A maioria dos sindicatos nas capitais foi fundada por bancários. Em 1933, 1934 já se fazia greve nacional! Isso foi rompido no período da ditadura, mas sempre a categoria teve uma tradição de fazer campanha nacional unificada, lutas nacionalmente unificadas. Da categoria, desde essa época, sempre saíram parlamentares, governadores.... agora recentemente o Olívio Dutra, que foi presidente do sindicato dos bancários do Rio Grande do Sul e governador do estado. Vários parlamentares que estão hoje no Governo Lula, vários ministros saíram da categoria. Então, a categoria bancária tem dado uma contribuição quer seja na esquerda quanto na direita. Alguns parlamentares também da direita são bancários de origem. Então, a categoria tem dado uma contribuição muito grande nesse sentido.
Antigamente, durante as campanhas salariais víamos todo mundo nas ruas, mobilizados; hoje é como se o movimento dos trabalhadores em geral, e o dos bancários consequentemente tivesse arrefecido a luta. Por que você acha que isso acontece?
O movimento é dinâmico. A tecnologia avançou. Se nós avançamos nas formas das organizações e das lutas, os patrões também se organizam e avançam. Antes, quando fechavam um banco nessa fase pós-ditadura militar, se fechava mesmo. Hoje, quando se fecha um banco, têm várias alternativas para a clientela, então não fecha totalmente. Mesmo com o banco fechado, quando ele acha um posto aberto ou um terminal aberto, o cliente tem condições de fazer transações, ou fazer transações da própria casa. Então, é uma outra situação. A movimentação antigamente era uma grande concentração de bancários especialmente de bancários comuns; as agências eram lotadas. Era comum você ter 100 bancários em uma agência. Hoje não, você vê máquinas; diminuiu muito o número de bancários nas agências e a forma de luta também modificou, com certeza. Antes, a gente contava com a, vamos dizer assim, com os trabalhadores da base; hoje, nós temos que contar também até com o seguimento gerencial, senão você não faz o movimento.
A forma de exploração pode modificar um pouco, mas sempre existe porque sempre vai existir capital e trabalho. Agora, das formas de luta dos trabalhadores, a principal, que é um processo de radicalização, é a greve. Isso aí nunca vai deixar de existir, pode ter momentos que vai estar mais atualizado, momentos mais de processo negocial e essa questão de radicalização no processo de negociação sempre vai existir como instrumento muito importante dos trabalhadores e por isso deve ser valorizada.
Apesar dos lucros exorbitantes dos bancos brasileiros, com crise ou sem crise, o bancário vai na contramão, com salários achatados, sofrendo assédio moral, adoecendo... O que fazer diante dessa situação?
Lutar, lutar e lutar. Veja só: nesses últimos tempos tivemos várias conquistas, mas é necessário dizer que a luta é pela ampliação dos direitos. Se antes os sindicatos assumiam as questões de saúde nas suas entidades, por exemplo, hoje conseguimos transportar isso para os bancos. Antes, a gente não tinha ticket-refeição, hoje nós temos. Mas precisa avançar muito, por exemplo, com relação aos direitos dos aposentados. Por isso mesmo que hoje nós colocamos como uma reivindicação fundamental, essencial, a questão do aumento real de salário para que também a pessoa ao se aposentar incorpore aqueles benefícios para a sua aposentadoria. |
Última atualização: 30/11/-0001 às 00:00:00 |
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