Resolvi utilizar minhas folgas de assiduidade do BNB em 2009 de uma forma proveitosa e prazerosa, para conhecer Belém e participar do Fórum Social Mundial. Um pouco de férias, um pouco de capacitação, idéias diferentes, lugares diferentes, pessoas diferentes, estava instigado e ansioso esperando aquele momento.
“Um outro mundo é possível” foi o tema com o qual me deparei no 9° Fórum Social Mundial ocorrido entre os dias 27 de janeiro e 1º de fevereiro, em Belém do Pará. Cheguei lá com grande expectativa. Administrador de formação, mas com uma forte inquietude social – na verdade, uma indignação reprimida nos bancos da Universidade. Fui para esse encontro com o espírito aberto, sem preconceitos e disposto a assimilar em um reduto não convencional o que não encontrei na Academia.
Depois de mais de oito anos estudando Administração (entre Graduação e Mestrado), sinto o quanto essa carreira é carente da pluralidade de outro pensamento que não seja o da racionalidade instrumental (1), o que acarreta impreterivelmente um prejuízo à emancipação do homem dentro e fora das organizações. E a questão que me molestava estava bem próxima daquela posta no título do encontro: um(a) outro(a) mundo (Administração) é possível?
Notava que todos ali também possuíam alguma inquietude pessoal, estavam em busca de algo novo, diferente. Pessoas de todas as partes do mundo com sede de algum ideal de vida, algo mais original, belo, verdadeiro, que valesse a pena depositar todas as energias de uma juventude (e os jovens eram a grande maioria no Fórum!), mas esse ideal eles não estavam encontrando nos seus bairros, cidades, ou mesmo na rede mundial de computadores.
Em um paralelo entre a minha questão da Administração e muitas das questões levantadas no Fórum (ecológicas, raciais, políticas, religiosas etc.) poderiam se explicar pelo uso hegemônico da racionalidade instrumental, hoje, não mais restrita ao campo da Administração. Muitos pesquisadores já caracterizam a nossa sociedade como sociedade managerial (2) (do inglês management = gerencial) e que esta não dá espaço a uma racionalidade substantiva e emancipatória, racionalidade que possibilitaria o fomento de ideais revolucionários como os de outrora.
Hoje, a empresa privada é o modelo de organização não somente para o mercado, mas também para os hospitais, as escolas, a administração pública, e até mesmo para gestão de nossas residências. E isto se torna um problema sério porque seguramente a finalidade de uma Universidade, de um Hospital ou de um Banco Público não é a finalidade de uma empresa privada. (CHANLAT, 2006)
Uma das grandes reivindicações encabeçada pelo professor Boaventura Santos é que o Fórum Social deve estar maduro e apto para ir além das proposições e discussões teóricas. É premente a formulação de uma agenda social envolvendo diversos atores que acreditem neste outro mundo. Ações práticas que possam ir em direção da dialogicidade e da emancipação humana através de uma racionalidade substantiva, que sirva de contra-ponto à sociedade managerial. Mas esse objetivo foi algo que infelizmente ainda não se conseguiu concretizar no Fórum de Belém.
NOTAS
1. Segundo Ramos (1989), a racionalidade instrumental seria, a “capacidade que o indivíduo adquire pelo esforço e que permite fazer o cálculo utilitário das conseqüências”. Caracteriza-se como o uso da razão que cria expectativas de resultados, cuja conduta da organização seria apenas um meio exclusivo para se chegar neste fim, fazendo, inclusive, que o homem desista de sua autonomia.
2. “O managerialismo, isto é, o sistema de descrição, de explicação e de interpretação do mundo a partir das categorias de gestão, está profundamente bem instalado na experiência social contemporânea” (CHANLAT, 2000, p.17) |
