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11/03/2009

Nossa Voz - A crise mundial e as instituições de desenvolvimento

Salvar o sistema ou superá-lo?

O destino das nações está completamente atrelado às decisões políticas nacionais e internacionais diante da crise mundial. Em épocas como esta, acirram-se as disputas entre países, regiões e classes sociais, cada um querendo mini-mizar suas perdas. E nesse jogo, dentro do sistema de mercado em que vivemos, puramente competitivo, não há regras ou planejamento para que todos ganhem. Ou seja, alguém sempre paga a conta.

Ladislau Dowbor, doutor em Ciências Econômicas e professor da PUC-SP, explica de forma bastante didática, no artigo “A crise financeira sem mistérios”, os principais encadeamentos da crise financeira, cujo estopim foi o mercado imobiliário norte-americano.

Em busca do lucro irresponsável, os bancos ficaram cada vez mais poderosos – logo, cada vez menos controlados. “O que aconteceu com a globalização financeira é que os papéis circulam no planeta todo, enquanto os instrumentos de regulação, os bancos centrais nacionais, estão fragmentados em cerca de 190 nações. Na prática, ninguém está encarregado de regular coisa alguma”, afirma Dowbor.

Quem paga a conta?

O professor destaca que a conta da irresponsabilidade norte-americana, devidamente imitada em outros países, ainda está por ser apresentada. No entanto, a grande massa de movimentação financeira foi evidentemente no socorro às instituições financeiras que estão quebrando. Neste início de 2009, a conta dos recursos mobilizados está em cerca de 4 trilhões de dólares. “Dinheiro público, naturalmente, pois se tratava justamente de não prejudicar os bancos ou seguradoras”, aponta ele. Apesar do “alívio” em se evitar (ou retardar) a quebradeira, amarga-se a dura realidade de salvar especuladores com dinheiro público. O que significa menos recursos disponíveis para políticas públicas em saúde, educação etc.

Crise no Brasil?

Sim, a crise chegou ao Brasil. Apesar da “blindagem” do País, alardeada pelo governo, os setores mais ligados à economia externa não conseguiram escapar. Os mais atingidos foram os setores da construção civil, o agronegócio e a indústria de bens de capital.

A General Motors e a Embraer resolveram aderir à demissão em massa. Somente em janeiro, a GM no Brasil demitiu mais de 800 trabalhadores. Mas as demissões vinham ocorrendo há vários meses, através dos PDV´s (Planos de Demissão Voluntária). Já a Embraer anunciou, em 19 de fevereiro, a demissão de 4.200 trabalhadores – um quinto dos seus efetivos, “como decorrência da crise sem precedentes que afeta a economia global”. Foi a maior demissão em massa ocorrida no Brasil desde a eclosão da crise capitalista. A Embraer é a terceira maior fabricante de aviões do mundo. De acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos, "a Embraer é uma das principais beneficiadas por dinheiro público no país através do BNDES", tendo recebido deste banco estatal financiamentos no valor de US$ 7 bilhões desde a sua privatização, em 1995.

No entanto, apesar da perspectiva de uma retração da economia no primeiro trimestre deste ano, em janeiro a produção industrial subiu 5,7% em São Paulo, em comparação a dezembro, após três meses seguidos de queda. A produção da indústria automobilística quase dobrou de dezembro para janeiro, de acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores. Foi o primeiro aumento após cinco meses de queda. Em janeiro, o transporte de passageiros domésticos cresceu 9,6%, computou a Agência Nacional de Aviação Civil, ficando acima da taxa de janeiro de 2008: 6,7%. O PAC sofreu reforço pesado:  um acréscimo de mais R$ 142 bilhões para os próximos dois anos. O governo anunciou ainda ampliar de 500 mil para 1 milhão a construção de casas populares, até 2010. (Fonte: http://www.vermelho. org.br/base.asp?texto=51030)

Para José Frota de Medeiros, presidente da AFBNB, o governo surpreende ao tomar tais medidas, enquanto vários setores estão buscando a “solução burguesa da classe dominante, ainda encantada com o neoliberalismo: de demitir, precarizar o trabalho e encolher gastos e investimentos”. Segundo ele, “isso só realimenta o desemprego e a recessão”.

O papel das instituições

Para Ladislau Dowbor, o Brasil possui um grande trunfo na mão, que é a possibilidade de usar os bancos oficiais para reintroduzir concorrência no mercado cartelizado, permitindo ao mesmo tempo dinamizar a economia ao estimular consumo e investimento. “Este mecanismo, ao que tudo indica, está sendo progressivamente implantado”, afirma ele.

Salvar o sistema ou transformá-lo?

A credibilidade dos Estados Unidos e o seu papel de liderança planetária estão fortemente abalados, assim como a confiança nas instituições financeiras. Afinal, são milhões os que foram prejudicados nas suas poupanças ou aposentadorias, e circulam na mídia o uso de mecanismos fraudulentos como os paraísos fiscais, as contabilidades duplas, a falsificação de dados sobre a situação real das instituições etc. “O caos sistêmico gerado e a clara perda de governança econômica, frente ao desespero de uma imensa massa de pessoas prejudicadas, estão gerando um novo clima político”, analisa o professor Dowbor.

Já que ninguém estava regulando ou governando coisa alguma, as propostas com impactos mais significativos dizem respeito à área da governança, a exemplo da criação de uma um instrumento supranacional de regulação financeira global, na linha de uma World Financial Organization (WFO) análoga à Organização Mundial do Comércio.

Mas ele aponta que estamos diante de um sistema que deixou de funcionar, e que está portanto em crise, mas que sobretudo é um sistema que quando funciona é inviável. “As soluções têm de ser mais amplas. Esta visão mais ampla pode viabilizar mudanças mais profundas”, afirma o professor.

É preciso refletir sobre que desenvolvimento queremos. “As alternativas não serão cons-truídas da noite para o dia. Algumas medidas são óbvias, e já estão sendo amplamente discutidas: controlar os paraísos fiscais, taxar os movimentos especulativos, organizar sistemas de controle e regulação sobre os intermediários financeiros, voltar a separar as atividades propriamente bancárias dos investidores insti-tucionais, criar sistemas locais de financiamento e assim por diante”, finaliza.

Para José Frota de Medeiros, o momento é propício para pensarmos em um outro processo civilizatório, colocando como epicentro a proteção do ser humano e da natureza, e não o lucro desvairado. “Por isso a nossa preocupação com os reflexos da crise no Brasil e na região nordestina, dentro de um fato histórico que é realmente o colapso de um modelo neoliberal. Temos que construir alternativas melhores para o Brasil e para a região Nordeste.

Última atualização: 30/11/-0001 às 00:00:00
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