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19/11/2008

Nossa Voz - Campanha Salarial no BNB faz história

Na contramão da crise e das fusões

A crise financeira global, a megafusão entre Unibanco e Itaú e a desregulamentação do sistema financeiro trazem à tona novas ameaças às instituições financeiras de caráter regional. Para falar sobre o assunto, o Nossa Voz conversou com o presidente da AFBNB, José Frota de Medeiros, que é analista do ETENE e especialista em Planejamento Regional.    
 
Nossa Voz – Como a conjuntura econômica mundial pode afetar o desenvolvimento regional?
Medeiros – Com a crise mundial e outras mudanças no cenário global, é preciso estar alerta. Aqueles que têm projetos contrários ao Nordeste encontram argumento fortes para implantá-los. A fusão do Itaú com o Unibanco, por exemplo, está sendo festejada pela mídia como uma novidade na economia brasileira, com reflexos positivos para as finanças. Mas todo mundo sabe que isso é uma “frente” para poder debelar a crise que está no País. Ou seja, isso não é reflexo da pujança do nosso sistema financeiro. Querer colocar que isso é fruto do fortalecimento do sistema financeiro nacional é uma medida estratégica que visa enfrentar uma crise que ainda vai continuar por muito tempo no mundo. Então, é preciso que as pessoas tenham uma leitura para além daquilo que é apresentado pela imprensa.

Qual a verdadeira ameaça?
A fusão tem um aspecto muito mais perigoso, relacionado ao Banco do Brasil. A instituição tenta agora, de todas as formas, ter a supremacia do sistema financeiro nacional. Segundo observadores do Planalto, do Banco Central e do Ministério da Fazenda, o objetivo do BB é regular o sistema financeiro nacional. Porque este não é um sistema em que existe o livre mercado: ele é oligopolizado e esse oligopólio é uma das causas fundamentais dos altos juros que existem no Brasil. Isso sem falar no poder econômico e político exercido pelos banqueiros hoje no País. Então o BB estava perseguindo uma hegemonia no sistema financeiro através da fusão e incorporação de outros bancos, tanto privados quanto nacionais. Tanto que acaba de ser aprovada na Câmara uma medida provisória [a MP 443] que permite que o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal comprem participação em instituições financeiras. Isso dá condições do BB comprar ações de qualquer banco sem licitação. E ele já comprou 49% do Banco Votorantim. O Banco do Nordeste pode ser submetido a uma tentação do BB. Então essa MP é clara para fortalecer o BB e dá todos os pontos cardeais para que o BB incorpore inclusive bancos oficiais.

Caso isto fosse concretizado, o que representaria para o Brasil e para o Nordeste?
Representaria uma ofensiva muito maior do próprio capital financeiro sobre a economia. Em vez de as autoridades econômicas do País tentarem estabelecer regras de contenção do sistema financeiro, eles estão dando maior poder. Umas das medidas perigosas é o fortalecimento do Banco Central. O Banco Central nunca pede a opinião da sociedade quando adota medidas que influem sobre a economia, sobre o futuro da nação. E o fortalecimento disso, através de lei, é uma consolidação do sistema financeiro sobre o sistema produtivo do País. O Brasil não deveria proteger desse modo seu sistema financeiro, tendo em vista que temos milhões de problemas sociais. Não se deve cortar gastos, orçamentos, mas centralizar e controlar o câmbio, porque é preciso ter um compromisso com o nosso futuro. Veja o exemplo da China, que injeta na economia quase US$ 600 bilhões e vai na contramão de todos os países até agora.

Para o cidadão comum, enquanto consumidor, a fusão também é ruim, não?
Sim, porque esses oligopólios trazem a deformação da economia e atingem o consumidor. E isso dentro de uma ofensiva ideológica em que se quer colocar o livre mercado como o senhor da organização da economia (e a gente sabe, mais ainda depois dessa crise, que isso não é verdade). É preciso que a sociedade brasileira discuta isso. A imprensa toda tenta ocultar a verdadeira essência da crise. Estamos ainda na ponta do iceberg. Essa eleição americana foi a busca da própria estrutura do País de dar uma resposta ao mundo, para servir como alavanca para preservar a hegemonia americana. Não podemos continuar prisioneiros desse mundo de essência neoliberal. Ora, o que é esse Fundo Soberano que o governo vai criar para apoiar as empresas brasileiras no exterior? É um estoque de dólares que nós temos que podia ser aplicado em diversos setores produtivos. A China está investindo esse dinheiro que ela tem em caixa em infra-estrutura, em um projeto de nação. Aqui no Brasil, esses dólares são investidos em empresas estrangeiras, em títulos do governo americano. Isso demonstra uma falta de compromisso com o futuro do País. Seria a hora de utilizar esse excesso que nós temos para dinamizar a economia.

E refazendo o recorte para o Nordeste, se esse bancos forem incorporados...
Aí pronto, acabou. Porque o Brasil é um País de dimensões continentais. Aqui, temos diversos brasis: o do Norte, do Nordeste, do Centro-Oeste e o Brasil do Sul/Sudeste. Então, um banco nacional não teria uma visão do que seriam as economias regionais brasileiras. Isso é provado em qualquer lugar do mundo. Seria a hora do País aproveitar essa crise e ir na contramão disso. Os fundamentos da nossa economia e dos nossos recursos naturais e humanos são favoráveis à implantação de uma economia sustentável e dinâmica. Por que o Brasil não prepara uma infra-estrutura econômica e produtiva pensando no futuro, com uma visão de projeto de nação?

Como se preparar para enfrentar estas novas ameaças?
São os interesses regionais, então deve haver mobilização regional. Nós não podemos deixar que essa crise seja paga pelo povo. Em vez de colocarmos na pauta um projeto de nação, nós estamos nos preocupando com Fundo Soberano, nós estamos nos preocupando em socorrer bancos, em fortalecer o Banco Central... Em tempos de crise, o corte do crédito aliado ao endividamento das famílias brasileiras complica ainda mais se não houver uma ação enérgica do governo brasileiro para evitar que o País entre numa recessão. Temos que crescer e continuar com programas como o PAC [Programa de Aceleração do Crescimento], para que o Brasil não volte a ter problemas de desemprego e de distanciamento, inclusive da sua posição em relação aos centros dinâmicos da economia mundial.    

Última atualização: 30/11/-0001 às 00:00:00
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