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08/07/2008

Nossa Voz - Vigilância e mobilização permanentes

Expectativas do Desenvolvimento Regional

Francisco das Chagas Cunha Filho

A discussão sobre o fortalecimento interno e externo do BNB, tema principal do encontro que reuniu representantes da AFBNB e lideranças sindicais e políticas em Recife, nos dias 28 e 29 de março deste ano, trouxe alguns desafios para a categoria e reflexões sobre os paradigmas do desenvolvimento. A consta-tação é de que, apesar dos novos ares da política atual, a força conservadora das elites consegue impor a manutenção de seus privilégios, no momento em que se apropriam das bandeiras populares para mascarar seus reais interesses classistas.

Os debates que ali sucederam, estimulados por ilustres defensores das causas sociais, despertaram nos participantes a necessidade premente de mobilização em defesa dos interesses do Nordeste - até então embalado na expectativa positiva de correção das desigualdades regionais e nas possibilidades de emancipação socioeconômica da Região no governo Lula. Apesar dos avanços verificados no País, o tratamento dado às causas regionais deixa passar a sensação de angústia pela morosidade e forma como são conduzidas as propostas de melhorias capazes de fortalecer organismos institucionais responsáveis pelo desenvolvimento das regiões menos desenvolvidas.

No que se refere à questão nordestina, a evolução das políticas regionais sofre, reincidentemente, o ranço da discriminação pelas regiões tradicionalmente privilegiadas, acostumadas às benesses do mercado e aos apelos do capital estrangeiro. Citem-se os projetos de leis e propostas de esvaziamento de recursos da Região que tramitam discretamente no Congresso, como o destino dos Fundos Constitucionais, o tratamento diferenciado ao BNB no aporte de capital, e de seu fortalecimento interno por meio do atendimento burocratizado de demandas pelo Departamento de Coordenação e Controle das Empresas Estatais (DEST).

É inaceitável que uma região, historicamente marcada por baixos indicadores de desenvolvimento humano e altos índices de exclusão social, deixe de contar com a intervenção do Estado a partir de suas instituições e de seus poderes constituídos. A freqüente protelação de medidas que beneficiam o Nordeste demonstra a capacidade de infiltração dessas elites num governo supostamente perfilado para atender às demandas sociais, ante os destroços deixados por seus antecessores.

Se acreditarmos que não existe desenvolvimento sem intervenção externa, por meio da qual se realize uma ação integradora dos agentes econômicos, sociais e ambientais, somos do mesmo modo levados a crer que não existe também desenvolvimento pleno, sem uma ação interna estruturadora capaz de restaurar, ordenar, garantir as forças que dão sustentabilidade e eficiência aos instrumentos institucionais. 

Não se pode mais acreditar que o mercado seja, por si só, capaz de realizar os anseios de desenvolvimento da sociedade, como bem demonstra a exaustão do modelo neoliberal. O fosso socioambiental verificado ao longo dos anos no Nordeste e no Norte em relação às demais regiões do País tem confirmado a assertiva de que “a corda se quebra sempre no lado mais fraco”, quando a questão diz respeito à perpetuação do modelo de desenvolvimento que privilegia o capital em detrimento de outros pilares como o social e o ambiental. A miséria rural e urbana, fonte das mazelas contemporâneas, continua a estender suas teias por meio da violência, da prostituição, da descaracterização humana dos indivíduos, do sucateamento de serviços essenciais à cidadania, das agressões à natureza, enfim, do esgotamento desse sistema.

Entretanto, não é possível perdermos as esperanças, sem antes buscar uma perspectiva concreta de reversão desse quadro, como também não é prudente nos deixarmos levar pelo sabor das palavras nem pela empolgação dos discursos ideológicos, quando a realidade grita em nossos ouvidos e afronta nossas consciências.

Deveríamos perguntar: até quando ficaremos de braços cruzados assistindo a nossa própria inércia? Eis um desafio que nos incomoda.

* Francisco das Chagas Cunha Filho é representante da AFBNB no Ambiente de Comunicação Social (Fortaleza-CE).

Última atualização: 30/11/-0001 às 00:00:00
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