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05/03/2008

Nossa Voz - Pelo fim do assédio moral e da exploração no BNB

Assédio moral no trabalho e o pacto do silêncio

Assédio moral no trabalho e o pacto do silêncio

A política neoliberal impôs um novo patamar de compe-titividade mundial que favoreceu a quebra de muitas empresas, o nascimento das mega-fusões e interdependência financeira. O advento das novas tecnologias justificou uma “necessária” reestruturação, responsável pelo fechamento de postos de trabalho, demissões massivas e intensificação do trabalho. Em síntese, o capital reestruturou sua forma de produzir, agir e administrar, conseguindo aumentar a lucratividade e poder.

Neste contexto, a exploração dos trabalhadores se intensificou, atingindo um grau de eficiência historicamente novo ao mesmo tempo em que o trabalho foi precarizado. A expansão e fortalecimento do projeto econômico neoliberal e o “crescimento” em muito se deve aos sacrifícios impostos à classe-que-vive-do-trabalho, ao lado da acumulação flexível, da coesão produtiva e nova organização do processo de trabalho. Junto à esperada redução da jornada de trabalho surgiu o banco de horas que, em geral, esconde as horas extraordinárias de trabalho, nem sempre computadas ou pagas ao trabalhador, mesmo que em forma de descanso. O que predomina em diferentes setores da economia é a pressão para produzir e ultrapassar a meta diária. 

No setor bancário, esta prática não é diferente, mesmo considerando que os trabalhadores deste setor constituem uma categoria singular, já que, em sua grande maioria, possuem alta qualificação profissional e competência técnica. Estão subordinados a um contexto de pressão e opressão constantes para ultrapassar as metas, o que revela a forma de administrar os trabalhadores pelo medo, ameaças e injúrias.

São nos períodos de reestruturação, programas de demissão e adoecimentos que a violência torna-se generalizada, sendo freqüentemente, naturalizada. De alguma forma, todos estão expostos à violência, cotidianamente, na medida em que são desqualificados, pressionados e desmoralizados se não “vendem” o imposto. E se alguém contesta, critica, sugere novas formas de administrar ou adoece em conseqüência do trabalho, passa a ser considerado uma “ameaça” à instituição ou uma “pessoa problemática” e, por isso, deve ser vigiado continuamente.  Se persistir em sua atitude, passa a ser sistematicamente criticado, o que o leva a duvidar de suas qualidades e potencial profissional. O trabalhador não percebe, muitas vezes, que está sendo forçado, de forma indireta e sutil, a renunciar à empresa e deixar “voluntariamente” o seu emprego. Em clima de tensão, a sujeição aumenta sob o comando mediador de chefias que manipulam o medo, o que intensifica o desgaste e sofrimento.

O tema tem sido motivo de amplas discussões, seminários, encontros e elaboração de cartilhas. Foi motivo de pesquisa e pauta de negociações como cláusulas de acordos coletivos, em que se deu ênfase, entre outros temas, ao assédio moral, código de ética, igualdade de direitos para bancários afastados, programa de prevenção de acidente de trabalho e reabilitação de vítimas. 
Para combater essa forma de tortura no trabalho, é necessário organizar, intensificar os laços de amizade e confiança, dar visibilidade social ampla aos atos de violência perpetrados e compreender, acima de tudo, que a violência moral se insere e intensifica no contexto das novas políticas de gestão e organização do trabalho, associadas à precarização – o que constitui, por si, aspectos relevantes a serem analisados. Lembrar que as leis, jurisprudências, normas, código de ética e ouvidorias são conquistas e bons instrumentos.  Mas a luta envolve ação coletiva e sensibilização de toda a categoria, pois o assédio diz respeito a todos, na medida em que constitui uma ferramenta de gestão.

* Margarida Barreto é médica do Trabalho, pesquisadora, professora universitária e autora dos livros “Violência, saúde, trabalho - Uma jornada de humilhações” e “Assédio Moral no Trabalho”.

Última atualização: 30/11/-0001 às 00:00:00
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