A terceira estratégia destacada na publicação “Por um Nordeste Melhor - proposta de estratégias de desenvolvimento regional”, de autoria do Conselho Técnico da AFBNB, é o crescimento econômico. Apontado como fundamental para o desenvolvimento, o crescimento econômico tem que ser orientado pela sustentabilidade, qualidade e permanência dos processos que incluam sempre um maior número de pessoas, principalmente as que estão à margem da sociedade. “Ou seja, de nada adianta se o crescimento econômico gerar concentração de renda, como está ocorrendo atualmente”, destaca Clarício dos Santos, que é economista, doutorando em sociologia econômica, técnico do BNB/ETENE, e membro do Conselho Técnico da AFBNB.
No documento, o Conselho Técnico reflete sobre a complexidade do crescimento econômico, a partir de suas múltiplas dimensões, enfatizando as vertentes setorial, espacial e interdisciplinar. Na vertente setorial, um dos destaques foi a Reforma Agrária, em cujo cerne estão questões cruciais como a segurança alimentar, e a concentração do patrimônio. Clarício chama atenção para a excessiva concentração da propriedade no País. “A concentração não se dá apenas no meio rural, mas também no meio urbano. Quanto mais democratizado o acesso à propriedade, mais pessoas e agentes econômicos vão estar motivados para o processo produtivo, e isso vai gerar uma dinâmica de crescimento e, conseqüentemente, um desenvolvimento mais igualitário”, finaliza Clarício. Na vertente setorial temos ainda a necessidade de uma política industrial na qual se possa incluir as micros e pequenas indústrias, que lhes possibilite o pleno acesso às inovações tecnoló-gicas. “Portanto, o Estado precisa ter um planejamento para alavancar os setores que são fundamentais para um crescimento com qualidade de inclusão e não exclusão dos mais pobres”, ressalta Clarício.
Já a vertente espacial toca diretamente na questão regional, a partir das macro regiões - norte, nordeste, centro-oeste, sul e sudeste - em suas relações de sinergias e explorações, fluxos sociais e econômicos etc. Nesta vertente, é importa enfatizar a inclusão dos médios e pequenos municípios, nos quais pode-se revelar possibilidades de expansão econômica e alavancagem de fatores capazes de contribuir com o desenvolvimento meso e macroregional.
A outra dimensão, a inter-disciplinar, significa pensar o crescimento/desenvolvimento a partir dos processos socio-econômicos e institucionais que protegem o tecido social do esgarçamento. “Por exemplo, podemos questionar o crescimento a partir do aumento da violência, que está vinculada à concentração de renda, ao desemprego e acesso aos serviços de apoio social. Neste sentido, devemos ter uma preocupação antropológica para percebermos o desenvolvimento a partir do olhar para as condições do ser humano, da criança, da educação, da saúde, do conhecimento, da ciência...”, afirma Clarício. “Esse olhar interdis-ciplinar é fundamental, caso contrário o crescimento apontará pura e exclusivamente para a acumulação e não para a qualidade de vida das pessoas”, acrescenta o economista.
Dentre as várias propostas de estratégias relativas ao crescimento econômico elencadas no livro, Clarício destaca, além da Reforma Agrária, o financiamento do desenvolvimento e a questão dos pequenos produtores. “O financiamento é uma questão crucial, pois sem crédito não dá para se pensar em ação de desenvolvimento”, afirma. “Em relação à pequena produção, precisamos resgatar o trabalho solidário, a exemplo dos mutirões das sociedades camponesas. Neste sentido, é fundamental apoio ao associa-tivismo, ao microcrédito, à economia solidária”, diz. No trabalho em comum, o coletivo tem um espaço de decisão, o que também contribui para a dinamização das instituições necessárias que são alicerces do desenvolvimento, tais como a cooperação, a solidariedade e o intercâmbio.
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