A política econômica do governo FHC deixou um rastro de desorganização sem precedentes na vida econômica nacional; em particular o Nordeste. Desemprego e degradação das condições de trabalho, dependência e vulnerabilidades cada vez maiores da economia vis-à-vis os movimentos do capital financiero internacional, desestruturação de amplos segmentos do sistema produtivo industrial, dilapidação do patrimônio público, sucateamento da infra-estrutura de serviços básicos, endividamento interno em progressão geométrica e desajuste estrutural são alguns dos resultados do processo de “estabilização forçada” pelo Plano Real e “reformas” impulsionadas pelo sociólogo que virou presidente.
Não se imagine que o sepultamento político de FHC resolveu o problema do povo brasileiro. Os grandes problemas do país continuam ausentes da política governamental vigente e sem perspectivas de solução nos dois mandatos do metalúrgico que se tornou presidente. Apenas um brasileiro viu sempre com olhos de lince a questão regional na questão nacional como um todo. Esse homem de uma inteligência descomunal e resplandescente foi Celso Furtado. E foi ele quem declarou, alto e bom som, que “o que está acontecendo, na fase recente, não é nem redução nem exacerbação da questão regional; é a desconstrução do país”.
O fato concreto é que a questão da liquidação dos bancos estaduais liquidados ou privatizados, dentro da qual querem inserir a próxima vítima – o Banco do Nordeste do Brasil – deflui da lógica de concentração bancária patrocinada pela escalada da financeirização da acumulação de capital no Brasil na esteira da estabilização conservadora. A adoção de um tipo de ordenação das atividades econômicas sobre o território nacional que conduzirá, inevitavelmente, ao aumento das tensões inter-regionais e ao acirramento das rivalidades corporativas decorrentes da modernização assimétrica.
Se dermos uma mirada nos desdobramentos da reestruturação bancária no Brasil fica evidente que Gustavo Franco e Pedro Malan ganharam as eleições em 2002 e 2006. A idéia de bancos estruturados voltados para o tour-de-force do desenvolvimento sócio-econômico planejado foi para o vinagre.
Ao mesmo tempo em que organizações da sociedade civil de Londres aplaudem a decisão do governo de Sua Majestade de retirar 95 milhões de dólares da conta do Banco Mundial a menos que a instituição alivie suas condições de crédito dos países pobres, o Brasil impõe ao Banco do Nordeste restrições típicas de uma agenda de validade vencida, que nada tem a ver com a diminuição das desigualdades regionais.
Alberto Amadei Economista, especialista em política fiscal, consultor editorial da revista Carta Capital |