Os dois dias da 32ª Reunião do Conselho de Representantes da AFBNB, que ocorrerá no final de agosto, em Salvador (BA), serão dedicados a um assunto que é de interesse de toda a região Nordeste: o modelo dos bancos de desenvolvimento. Mas o foco das discussões será o Banco do Nordeste do Brasil, a partir do tema “O BNB para um Nordeste Melhor”.
Discutir, refletir e repensar o papel do BNB enquanto agente para um Nordeste melhor, no entanto, não significa negar a instituição que hoje existe e que atua na Região há mais de meio século. Para o presidente da Associação dos Funcionários do BNB, José Frota de Medeiros, “a escolha do tema foi colocada em um sentido de superação, considerando todos os pontos positivos hoje existentes, e não no sentido de negação ao Banco que está posto, com seus gestores e suas ações. Isto é um eterno vir a ser”.
A escolha da temática reflete a preocupação da diretoria da AFBNB com o Nordeste a longo prazo, com o sonho de ver a Região combatendo permanentemente as desigualdades sociais, a pobreza e a miséria. Parte, desta análise, a necessidade de se rediscutir o papel dos organismos regionais, que devem estar munidos de condições que permitam dedicar suas forças operativas para a construção de um outro Nordeste. Para Medeiros, o BNB não vem contribuindo eficazmente para isto, não por culpa dos gestores atuais ou pelo descumprimento de sua missão, mas devido à conjuntura nacional. “Não há um projeto sério e sustentável de nação. Hoje se pensa o Brasil para amanhã, mas não para daqui a 20 anos”, assegura.
A ausência de uma política nacional de desenvolvimento, que pense o Brasil a longo prazo, interfere diretamente no desenrolar das políticas regionais. “O BNB se insere como instituição que possa contribuir para o desenvolvimento do Nordeste, mas deve vir blindado contra práticas como o clientelismo, fisiologismo e outros favoritismos que sempre pressionaram para que os operadores do desenvolvimento regional fossem utilizados para fins privados”, defende Medeiros, lembrando que nos primórdios de sua existência, o BNB atendia às expectativas da região e de seu povo, porque naquele momento histórico, apesar dos pesares – Governo Juscelino Kubitschek e governos militares – existia um plano de nação e de desenvolvimento para o país.
Hoje, o primeiro grande desafio que se coloca é este: o regional pautar o nacional, e vice-versa, em sinergia e confluência de interesses, o que só é possível com a elaboração e execução de um plano de desenvolvimento a longo prazo. Quanto ao BNB, como já foi dito – e para os demais organismos de desenvolvimento – é preciso buscar o fortalecimento das ações que estão dando bons resultados e a superação das práticas ultrapassadas ou que não condizem com o papel de um órgão de desenvolvimento.
A democratização do crédito, através de programas como Crediamigo e Pronaf, revela preocupação com atividades produtivas de pequeno porte e é contraponto à política de ordem geral, que traz em seu bojo o aprofundamento das desigualdades sociais. No entanto, apesar de positiva, a política de democratização do crédito sozinha não responderá às demandas. Ela carece da atuação conjunta de políticas públicas nas áreas de saúde, educação, infra-estrutura, saneamento etc.
Por outro lado, Medeiros alerta que é preciso muito cuidado para a superestimação que tem se dado ao crédito comercial e à venda de produtos, porque isso pode desviar o BNB do seu verdadeiro foco. “A venda de seguros e títulos pode até ajudar, mas também pode atrapalhar. O BNB deve concentrar suas preocupações na formação do capital de giro das empresas”, aponta. Além disso, o BNB para um Nordeste melhor precisa ter mais capilaridade na região. “A densidade de agências por município e número de habitantes é uma das menores entre os bancos públicos. É preciso uma expansão de agências para que haja uma em todos os rincões desse Nordeste e dessa forma se conheça a fundo as peculiaridades da região”, defende Medeiros. E complementa: “Um BNB para um Nordeste melhor é um banco parceiro de uma Sudene forte, de uma Codevasf atuante, de um DNOCS renovado. Porque uma andorinha só não faz desenvolvimento”. |