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19/06/2007

Nossa Voz - AFBNB na luta pelo fortalecimento dos bancos regionais

Entrevista

A força dos bancos regionais

Nilson Holanda é economista, consultor do Conselho Técnico da AFBNB, ex-presidente do Banco do Nordeste e professor da Universidade de Brasília. Em toda sua carreira, tem acompanhado de perto o que acontece no BNB e contribuído nas discussões em torno de modelos de desenvolvimento. Questionado sobre as especulações em torno do interesse do BB em incorporar os bancos regionais de desenvolvimento, é taxativo: seria um grande retrocesso, tanto no plano do conceito de banco de desenvolvimento como da regionalização do desenvolvimento. Confira na entrevista abaixo a opinião dele sobre esse assunto.

Nossa Voz – No final dos anos 90, início de 2000, foi apresentada uma proposta de reformulação dos bancos federais de desenvolvimento e também naquele momento houve um certo temor de que esses bancos fossem enfraquecidos. Qual a diferença daquele momento para este?

Nilson Holanda – Eu sei dessa notícia que saiu nos jornais agora e não sei até que ponto isso é apenas uma especulação ou se tem algum fundamento mais concreto. Quanto ao outro momento, eu lembro que houve um estudo contratado pelo BoozAllen sob o patrocínio do Banco Mundial, mas foi um estudo tão sem expressão que nunca mais se falou no assunto. O primeiro erro foi que uma empresa como a BoozAllen, estrangeira, não tem nenhuma experiência com banco de desenvolvimento, isso não existe em países desenvolvidos. Hoje é que começam a surgir algumas agências de fomento. O segundo problema é que muitas dessas propostas surgiram do Banco Central, que também não tem nenhuma experiência maior com banco de desenvolvimento e na realidade uma das grandes reformas recentes no Brasil foi retirar do BC aquelas operações de fomento, que contrariavam a sua natureza de autoridade monetária. Quer dizer, o BC não pode fazer atividade de fomento, ele tem que controlar a moeda, essa é a função principal. Qualquer atividade que tenha por objetivo fomento vai contrariar esse objetivo principal. Antigamente existia o chamado orçamento monetário e dentro dele havia uma série de contas de fomento, mas isso era considerado uma anomalia dentro do Banco Central e foi eliminado. Então quando essas propostas vêm do Banco Central  vêm eivadas de um preconceito de que banco de fomento é algo que prejudica o controle monetário, o que aconteceu com os bancos estaduais, porque entraram em dificuldades financeiras por operações mal feitas e o Banco Central era obrigado a socorrer esses bancos e isso implicava em expansão monetária. Daí porque chegaram a defender a extinção desses bancos, embora eu sempre ache que as instituições não possam ser punidas por seus maus administradores.

A proposta que vem sendo divulgada é de que haveria interesse do Banco do Brasil em incorporar BNB e Basa, que passariam a ser um setor voltado para o fomento. O que significaria isso, na sua opinião, para as regiões e para o Brasil?

Seria um retrocesso do ponto de vista institucional. Porque quando o BNB surgiu foi justamente para criar uma instituição, primeiro, mais especializada em desenvolvimento que o Banco do Brasil, que sempre foi um banco comercial, que teve um papel muito importante como banco rural, essa foi a grande função que o BB teve na área do desenvolvimento, ação essa que foi muito excluída nos últimos anos porque como o crédito rural no Brasil era baseado nesse sistema de subsídio enorme chegou a um ponto em que o sistema implodiu, praticamente desapareceu e só agora que está sendo retomado. Então o BB sempre foi, basicamente, mais um banco comercial que de desenvolvimento. Ao contrário do BNB, que apesar de ser misto é mais um banco de desenvolvimento que comercial. Então, essa fusão seria um retrocesso absoluto do ponto de vista institucional, do ponto de vista  do conceito de desenvolvimento. Do ponto de vista regional seria outro retrocesso, porque se você não tiver instituições voltadas para o desenvolvimento regional, as instituições nacionais naturalmente não têm condições de priorizar o que é regional. Elas são guiadas pela lógica da economia do Brasil como um todo. É natural, não se pode acusa-las por isso, como é o caso do BNDES. Então seria um retrocesso, tanto do plano do conceito de banco de desenvolvimento como da regionalização do desenvolvimento. Eu ouvi que o BB está preocupado porque está perdendo a concorrência para os bancos privados. É natural, porque os privados têm mais flexibilidade e vêm crescendo principalmente sob a forma de aquisições de outros bancos. Eles podem fazer isso com a maior facilidade. Já um banco oficial não tem condições de absorver outros bancos como estratégia de crescimento. Uma alternativa que surgiu foi absorver os bancos regionais. Isso é um projeto que pode fazer algum sentido do ponto de vista da estratégia empresarial do Banco do Brasil e é perfeitamente legítimo que a direção do BB persiga essa meta, mas o absurdo é que o BC, o Ministério da Fazenda, do Planejamento, da Integração aceitem isso.

Além do mais isso coloca os bancos oficiais uns contra os outros, o que os enfrequece...

Exato. Isso não faz o menor sentido, porque você tem uma especialização. Você iria perder essa especialização, esse conhecimento mais aprofundado das realidades regionais: BNB, Basa. Então se você incorpora isso ao Banco do Brasil vai perder tudo isso, além do que a cota estratégica de crescimento do BB pode ser um tanto pressionada, eu acho que um banco como o BB ao deve estar preocupado em competir com bancos privados na área de crédito comercial. Ele tem que competir apresentando alternativas que um banco comercial não apresenta.

Última atualização: 30/11/-0001 às 00:00:00
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