Um projeto de Brasil em construção
Uma das missões da Associação dos Funcionários do BNB é trabalhar pelo desenvolvimento do Nordeste, através do combate às desigualdades sociais. Fazendo jus à sua missão e tendo em vista, sobretudo o contexto político que se apresentou em 2006, a AFBNB, em parceria com a AABNB, realizou uma série de debates e discussões para a elaboração de propostas que pudessem contribuir para a construção de um projeto de desenvolvimento para o Brasil. O resultado foi sistematizado no livro “Por um Nordeste Melhor - proposta de estratégias de desenvolvimento regional”, que contou com a colaboração do professor e economista Nilson Holanda na elaboração do texto base da publicação. Ele considera a contribuição da AFBNB extremamente relevante, mas reforça que a entidade deve dialogar com outros setores e agregar novas forças políticas e institucionais na busca desse novo Brasil, onde as desigualdades regionais sejam superadas.
Nossa Voz – A publicação da AFBNB por meio do Conselho Técnico destaca a necessidade de um projeto de Nação que contemple uma política de desenvolvimento regional. Como surgiu essa premissa?
Nilson Holanda – Primeiro porque você não pode dissociar uma coisa da outra. Fora da retomada do desenvolvimento nacional fica muito difícil termos um programa de correção das disparidades regionais. Então o documento da AFBNB aponta isso. A partir do governo Fernando Henrique, o sistema de planejamento foi destruído e foram adotadas algumas medidas que resultaram em uma verdadeira desconstrução do Estado – e este fugiu a algumas responsabilidades, dentre as quais a de promover desenvolvimento regional. Então nosso grande problema é a falta de um projeto nacional de desenvolvimento, dentro do qual nós teríamos um projeto nacional de correção das disparidades regionais. Países como China, Coréia, Malásia e Índia têm uma estratégia clara de desenvolvimento e vêm obtendo sucesso. O desafio é grande porque houve um enfraquecimento fiscal e financeiro da União e aparentemente o governo está com dificuldades até de dar condições para assegurar que o Brasil cresça 5%. No passado, o país cresceu a 8%, 10% ao ano e precisaria crescer de 6 a 7% para criar um ambiente mais favorável às correções das disparidades regionais.
Quais os principais eixos do projeto?
O documento é muito bom por uma série de características. Além de identificar como causa básica de nosso problema a falta de um projeto ou de uma estratégia nacional de desenvolvimento, procurou-se dar uma abordagem abrangente à questão das desigualdades regionais, da desigualdade da distribuição de renda – não apenas no plano internacional, mas no plano nacional e no plano regional. Ou seja, foi feita uma abordagem integrada, também buscando associar os aspectos econômicos com os aspectos políticos e sociais. Isso é fundamental porque normalmente os economistas tendem a ver só os aspectos econômicos e nem sempre conseguem elaborar um plano que seja exeqüível, porque falta sustentação política e social. E finalmente buscou-se produzir não um estudo meramente acadêmico, mas um documento com base conceitual bastante elaborada, que apresenta uma série de propostas para aquilo que consideramos as questões básicas, como o conhecimento, a infra-estrutura, a inclusão social etc. Ou seja, questões básicas sobre as quais se deve concentrar os debates, a atenção, a pesquisa e o esforço para formular políticas e projetos. Se a gente não resolver essas questões centrais nós não vamos conseguir uma estratégia bem definida.
Qual o próximo passo para a construção desse projeto de Nação?
Esse documento é uma contribuição para a formulação de uma estratégia e então essa estratégia precisa ser discutida. Enquanto isso ficar apenas como documento da AFBNB, o impacto será pequeno. Então é preciso começar um novo ciclo de discussões de modo a ir aprofundando essas idéias. Não adianta termos boas idéias e estarmos convencidos que elas estão corretas, se as pessoas que tomam as decisões não estão. Então é importante que a AFBNB selecione alguns tópicos e comece a se articular com outras instituições – as universidades, o Banco do Nordeste, a nova Sudene, lideranças políticas, lideranças empresariais e a partir daí ir tentando formular um consenso que permitisse elaborar um projeto. E depois disso nós temos que fazer uma mobilização social. Então é um trabalho que é bastante complexo e que deve ser continuado, de modo que a estratégia que está proposta possa ser revista, aperfeiçoada e transformada numa estratégia que seja não da AFBNB, mas da sociedade e do governo.
Qual a importância da publicação para o corpo funcional do BNB?
Um dos méritos do documento é que ele não é corporativista. As questões foram colocadas muito além do interesse corporativo. Procurou-se fazer um documento que levasse em conta o interesse nacional em primeiro lugar, depois o interesse regional e só num terceiro nível entraria o interesse da instituição à qual pertencem os funcionários. A publicação interessa a toda a sociedade, mas particularmente ao corpo funcional do Banco do Nordeste porque o BNB é uma instituição que precisa ser mais e mais fortalecida, especialmente depois que passou por um processo de desgaste no governo passado. |