A necessária travessia
ssumimos a Associação quando já se desenhavam reações na sociedade brasileira sobre as possibilidades de o país ter agenda própria. Temíamos a possibilidade de fazer e construir. Estávamos asfaltando o caminho da transição. Acostumados a lidar com a armadilha do curto prazo em nossa economia, deparamo-nos com o pior: a falta de um projeto de nação. O mais estarrecedor foi constatar, durante o processo de construção do documento “Por um Nordeste Melhor – propostas de estratégias para o desenvolvimento regional”, a falta de motivação e vontade política para tal.
Nesse campo de ação, estávamos atentos aos movimentos e ações que a realidade brasileira apresentava para defender um projeto para o Brasil e, no seu bojo, um projeto de desenvolvimento do Nordeste. Nesse contexto, surgiu o projeto de recriação da Sudene, que foi emendado pelo Senado visando prejudicar o BNB. Neste projeto não havia lugar para o BNB no Conselho Deliberativo da Sudene, muito menos a idéia de planejamento; nenhum mecanismo que coubesse algum espírito transformador, princípios de ética política a defender. Só a gerência burocrática para conservar o que está aí na região, política e socialmente, com seu séquito de pobreza e desigualdades sociais. O pronto trabalho da equipe da AFBNB, aliada a técnicos do BNB, impediu a concretização do projeto de recriação da Sudene nos moldes propostos pela maioria conservadora da Bancada do Nordeste no Senado, pois, sem o Banco, a instituição coordenadora do desenvolvimento regional já nasceria enfraquecida.
Nesta travessia, com o intuito de retomar a “construção interrompida”, no dizer de Celso Furtado, deparamo-nos com dificuldades, crises, pressões que o jogo de interesses sociais inevitavelmente apresenta, em um cenário que se vislumbra como transição. Enfrentamos forças que tencionavam jogar o Banco no lamaçal da crise do mensalão, defendendo sua integridade, transparência, razão e ética no processo de concessão do crédito de desenvolvimento para a Região. E isto consumiu nossas energias e recursos. Necessitávamos ser protagonistas de uma esperança que surgiu com a eleição de um presidente originário das classes populares.
Temos princípios a defender. O da redenção do povo nordestino se coloca como o norteador maior. Neste sentido, a defesa do BNB figura como preocupação fundamental. Assim, uma das principais batalhas da nossa gestão centrou-se na defesa das pessoas que fazem o BNB, suas potencialidades humanas, técnicas e culturais. Por isso, defendemos uma relação de condições de trabalho condignas: combatemos o PCR que nega o Banco como instituição de desenvolvimento e o assédio moral; defendemos, através da determinação de nossas quatro reuniões do Conselho de Representantes, com insistência, a transparência no sistema de promoção, movimentação de pessoal, de capacitação técnica e científica; acompanhamos, com avaliação crítica, os movimentos estratégicos de direção de nossa instituição de desenvolvimento; e defendemos uma justa participação nos resultados do Banco, a PLR plena.
A construção da transição nunca foi tão necessária, pois o projeto neoliberal das elites faliu, já que aprofundou três aspectos da realidade brasileira que ainda precisam ser transformados: a concentração de renda, as desigualdades regionais e a falta de soberania nacional (ou dependência externa). Mas, para isso, é necessário que o Brasil retome sua agenda, seu projeto de Nação. Na ausência deste não cabe um Projeto de Desenvolvimento Regional. Assim, vamos aderir ao bom combate do povo brasileiro: um projeto de Nação, livre, economicamente forte, socialmente justo e ambientalmente responsável.
Avante, companheiros! Outro Nordeste é possível. Só depende de nós.
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