A constatação de que o modelo econômico utilizado pelo neoliberalismo gera riquezas, mas gera também, em grande escala, desigualdade e concentração de renda, levou a sociedade a pensar e a construir novas formas de práticas econômicas socialmente mais responsáveis. Duas delas – a economia solidária e a economia de comunhão – ganham cada vez mais espaço no século XXI e têm no ser humano o centro de sua atenção.
A Economia de Comunhão nasceu em 1991, por iniciativa de Chiara Lubich, fundadora do Movimento Focolares – movimento católico de leigos que prega a unidade entre os povos – durante uma viagem ao Brasil. Impressionada com a pobreza e com a desigualdade em um país tão rico, Chiara e economistas de renome, como o italiano Luigino Bruni (pós-Doutor em Economia pela Universidade de Pádua, na Itália e doutor em História do Pensamento Econômico pela Universidade de Florença), começaram a pensar em um modelo econômico que desse uma resposta ao drama da pobreza.
A novidade desse novo paradigma está na distribuição de renda. Se a base da economia dominante está no individualismo, na Economia de Comunhão a base é o bem-estar coletivo. O lucro da empresa que adere a este modelo é distribuído de forma a alcançar três objetivos: a consolidação da empresa com justos salários e respeito às leis vigentes; ajuda aos necessitados e criação de postos de trabalho; sustento a estruturas aptas para formar homens capazes de viver a cultura da solidariedade e da partilha.
A adesão à Economia de Comunhão exige uma mudança de postura cultural e até mesmo moral. Ou seja, a empresa deve rever sua relação com os concorrentes, com o cliente (oferecendo preços justos), com o meio ambiente (procurando preservar os recursos naturais). A experiência hoje é vivida por cerca de 850 empresas em todo o mundo. No Brasil, mas especificamente no Ceará, desde o ano passado o Governo do Estado vem desenvolvendo, junto com o Movimento Focolares, uma experiência de Economia de Comunhão dentro do Projeto Sertão Vivo. O Projeto, voltado ao homem do campo, reúne um conjunto de ações que visam a melhoria da qualidade de vida dessa população, desde orientações técnicas para cultivo e plantio a intervenções educativas para melhoria do nível de saúde da população. A idéia é que a Economia de Comunhão seja a base conceitual trabalhada no projeto.
Outra alternativa é a Economia Solidária. Apesar de não ser exatamente uma novidade – pois se originou na primeira revolução industrial, como uma reação dos artesãos expulsos dos mercados com o surgimento da máquina a vapor – tem ganhado força no Brasil sobretudo a partir do século XX e, mais especificamente no Governo Lula, quando foi criada a Secretaria Nacional de Economia Solidária, vinculada ao Ministério do Trabalho e Emprego.
A economia solidária é uma forma de produção, consumo e distribuição de riqueza centrada na valorização do ser humano – e não do capital, de base associativista e cooperativista. Mas, nem todas as cooperativas são iguais. Hoje está cada vez mais comum o empregador criar cooperativas para reduzir custos e ela existir apenas no papel, uma vez que os fatores que a caracterizam não existem, como participação na gestão e na divisão do lucro.
Em entrevista à agência Carta Maior, Paul Singer – titular da Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes) e autor de diversos livros sobre o tema – explica que a economia solidária não é mera alternativa para gerar ocupação em tempos de crise, mas uma ferramenta de construção de um novo modelo econômico pautado pelo humanismo, a justiça social, a cooperação mútua e a solidariedade.
Segundo levantamento feito pela Senaes em 2003, existem no Brasil cerca de 15 mil empreendimentos de economia solidária.
Para saber mais – O livro “Economia Popular e Solidária – A Alavanca para um Desenvolvimento Sustentável”, de autoria de João Cláudio Tupinambá Arroyo e Flávio Camargo Schuch traz, a partir da experiência dos autores nessa área, conceitos sobre microcrédito, economia solidária e desenvolvimento sustentável, além do relato de diversas iniciativas bem sucedidas. A publicação pode ser adquirida através do endereço www.efpa.com.br. |