Novos rumos para o desenvolvimento do Nordeste
Pedro Sisnando Leite Economista, funcionário aposentado do BNB e ex-secretário de Desenvolvimento Rural do Estado do Ceará
O crescimento da renda do Nordeste do Brasil, em termo total e per capita, tem sido satisfatório por padrões internacionais. A partir da década de 60, a participação do Nordeste na economia nacional melhorou ou tem mantido estabilidade. O crescimento do setor industrial, geração de divisas e outros indicadores macroeconômicos regionais seguiram idêntica tendência. Existem muitos estudos que falam desses efeitos da política econômica pública e da iniciativa privada. É a visão otimista do que tem ocorrido na Região nas últimas décadas.
Os resultados observados não foram, todavia, os mesmos no tocante à melhoria da qualidade de vida e das condições sociais pelo menos da metade dos 48 milhões de habitantes que moram na Região. Quanto à desigualdade intra-regional e setorial, há pesquisas que mostram agravamento desses aspectos.
Na verdade, o que tem ocorrido no Nordeste é um mau desenvolvimento econômico, subsistindo os principais problemas de desigualdade e pobreza que marcam as economias subdesenvolvidas do mundo atual. Nesse sentido, destacam-se uma baixa produtividade da agricultura, excesso de gente nas pequenas propriedades, desnutrição extensiva, altas taxas de analfabetismo, elevada falta de oportunidades de ocupação e uma excessiva concentração da renda.
É frustrante e difícil de entender como a Região não conseguiu avançar mais rapidamente na superação desses problemas elementares de desenvolvimento econômico. Especialmente sabendo-se que o governo criou uma rede de agências federais importantes para planejar e executar as ações do setor público para o Nordeste. Há essa dívida social que precisa ser resgatada para que se torne realidade “O sonho de um Nordeste melhor”. Certamente faltou ou falhou a coordenação das ações e eficiência estratégica na aplicação dos bilhões de reais transferidos para a Região durante muitos anos, através dessas instituições ou de ação direta dos governos federal, estadual e municipal.
O que tem acontecido com a agricultura é lamentável. Estagnação e pobreza no semi-árido e programas inadimplentes na agropecuária. Por sua vez, o sucesso atribuído ao programa de industrialização precisa ser mais analisado: concentração dos investimentos nos maiores centros metropolitanos, elevado custo por mão-de-obra empregada ou por valor adicionado gerado, alta taxa de falência e inadimplência, pouca internalização das atividades industriais e falta de prioridade à pequena empresa empregadora e fonte de distribuição de renda, como tem feito a Itália e outros países.
Não há dúvida de que uma nova era de crescimento econômico e modernização das atividades produtivas foi iniciada no Nordeste desde a criação da SUDENE. A aceleração do crescimento da economia, surgimento de uma classe empresarial local, investimentos em infra-estruturas para apoiar o processo de investimento industrial, são aspectos positivos que não podem ser esquecidos. O BNB deu importante contribuição para esse processo desenvolvimentista.
O que se lamenta é que os resultados da política econômica utilizada apresentaram resultados bem aquém dos recursos e dos esforços dedicados pelas instituições para transformar o perfil econômico e social da Região. O povo está saturado de promessas e sacrifícios. Há necessidade de novas estratégias, de melhor planejamento e de governança mais criativa e participativa, que mostrem as melhorias para a população pobre e para toda a sociedade regional. Esses são os desafios - ou os sonhos, de todos os nordestinos. |