“O Sonho de Um Nordeste Melhor” foi o tema debatido no primeiro dia da 29ª Reunião do Conselho de Representantes (RCR), realizada nos dias 16 e 17 de março de 2006, em Fortaleza (CE). Após a explanação de especialistas na temática do desenvolvimento, houve debate com os participantes.
Para discutir o tema – definido a partir de uma pesquisa junto aos conselheiros representantes da AFBNB, foram convidados dois economistas: Pedro Sisnando (funcionário aposentado do BNB e ex-secretário de Desenvolvimento Rural do Estado do Ceará) e Assuéro Ferreira (professor da Universidade Federal do Ceará, doutor em Sociologia e assessor do BNB).
Sisnando falou dos novos rumos do desenvolvimento do Nordeste. Segundo ele, o crescimento econômico da Região tem sido bom, sobretudo a partir da década de 60, superando o brasileiro em alguns momentos. No entanto, na área social, os resultados não foram os mesmos. Quase a metade da população do Nordeste vive na pobreza, o que leva à constatação de que há um mau-desenvolvimento: desequilibrado, concentrador e excludente. “Esse crescimento deixou de fora grande parte da população da região”, afirma.
Para ele, o pior desse cenário é a falta de vontade política que se reflete no abandono das áreas rurais, sobretudo do semi-árido. Sisnando falou ainda da concentração de terra como um empecilho ao desenvolvimento da Região. “A grande maioria das propriedades rurais no Ceará tem menos de 2 hectares, quando estudos mostram que para uma família viver bem precisa de pelo mesnos 50 hectares”.
Na opinião de Sisnando, o maior desafio do Brasil e do Nordeste não é crescer, é reduzir a pobreza. “Não podemos crescer concentrando”, defende. “Há uma dívida social que precisa ser resgatada para que se possa ter o sonho de um Nordeste melhor, do ponto de vista social, sem esquecer os aspectos econômicos”. Pedro Sisnando concluiu sua fala conclamando a todos a fazerem sua parte nesse processo. “Vocês não podem fraquejar, não podem esmorecer, não podem perder a esperança, porque o desenvolvimento é possível se desejarmos trabalharmos por ele”.
Assuéro Ferreira iniciou sua fala diferenciando crescimento econômico de desenvolvimento e explicando que um não leva necessariamente ao outro, sendo o Nordeste um exemplo disso: houve um grande crescimento econômico, mas não o desenvolvimento esperado. Além do que o processo de desenvolvimento envolve conflito e o crescimento econômico não.
Assim como Sisnando, Assuéro aposta que a mudança na estrutura agrária é fundamental para dar início a um verdadeiro processo de desenvolvimento social. Ele deu como exemplo o caso da China, analisado por técnicos do Fundo Monetário Internacional (FMI). Eles constataram que o que tirou a população da miséria não foi a expansão industrial e sim a expansão agrícola. Ressaltou também que em países ditos desenvolvidos a questão da terra é encarada de forma totalmente diferente de como é tratada aqui, sendo vista como questão política. “Mas a dificuldade é grande, porque mexer em latifúndio no Brasil é caso de polícia e não de política, como deveria ser”.
Para José Frota de Medeiros, presidente da AFBNB e mediador da mesa, a saúde da economia brasileira não deve ser medida apenas por números, indicadores, déficit nominal, metas de inflação, mas deve levar em consideração, de forma mais direta, as pessoas, a pobreza, a concentração de renda. Para ele, a economia não pode ter um fim em si mesma, mas deve servir como um instrumento para o bem estar da população. “Temos que quebrar certos paradigmas. A mensagem essencial aqui é que devemos compreender que a relação entre Estado, economia e social deve ser equilibrada”, afirma.
Segundo Medeiros, o novo conceito de modernidade deve estar ligado ao desenvolvimento social. Dessa forma, o Brasil não pode se considerar moderno – apesar da alta tecnologia, de grandes edifícios – se não consegue abrigar dignamente seus habitantes; da mesma forma que não pode se considerar moderno – por produzir e exportar toneladas de grãos – se não mata a fome dos brasileiros. “Nós temos que mudar essa lógica de economia, temos que democratizar a própria democracia”, concluiu. |