Fale Conosco       Acesse seu E-mail
 
Versão para impressão Diminuir tamanho das letras Voltar Página inicial Aumentar tamanho das letras


25/01/2006

Nossa Voz - O sonho de um Nordeste melhor

A economia brasileira em 2006: os bodes e a sala

A economia brasileira em 2006: os bodes e a sala

Jurandyr O. Negrão - Economista

A anedota é muito conhecida: um governo impopular anuncia que, diante das dificuldades do país, cada família terá de acomodar um bode na sala da sua casa. Passado algum tempo de convívio intolerável com o animal, e sem que nada de fato tenha mudado na situação nacional, o governo magnanimamente anuncia que, graças às providenciais providências que tomou, as famílias já poderão tirar os bodes de suas salas...

É essa a promessa que se anuncia para 2006 na economia brasileira: a taxa de juros será diminuída e o crescimento florescerá. Um segundo elemento poderá ajudar nesse “florescimento”: uma moderada descompressão nos gastos públicos, drasticamente represados há anos, e algumas “bondades” no campo da redução de impostos.

Do ponto de vista da dinamização da atividade produtiva, trata-se de fatores efetivos de estímulo, e que provavelmente realmente virão a se materializar. Por isso, é bastante plausível que a economia venha a crescer a um ritmo menos anêmico do que se observa em 2005.

O bode dos juros altos e do arrocho das contas públicas estariam, portanto, de saída, deixando a sala enfim habitável. No entanto, a imagem correta seria outra: o corte de juros e a redução do superávit primário nas contas pública - ou seja, a economia de receitas para pagar juros da dívida-, significariam tirar alguns bodes da sala, mas restariam muitos outros.

Pra começar, ninguém espera que a taxa de juros básica praticada no Brasil vá se aproximar de níveis “civilizados”. O que se espera é que ela recue para algo como 10% acima da inflação, na melhor hipótese. Esse é um nível ainda altíssimo, muito superior ao vigente na imensa maioria dos demais países. Tampouco se espera que a moderada redução do superávit primário possa mais do que atenuar, de modo muito limitado e transitório, a enorme carência de recursos que penaliza os que dependem dos serviços públicos de educação e saúde, por exemplo.

O que se espera, portanto, é apenas uma etapa mais “benigna” na implementação da mesma linha de política econômica que vem preponderando desde o início do governo – e desde os governos anteriores.

Por ser ano eleitoral, a política econômica será objeto de debate entre os candidatos. Os torneios retóricos prometem ser movimentados, mas no fundo quase todas as candidaturas estarão comprometidas com a manutenção dos atuais bodes: o ajuste fiscal infinito – significando a continuidade do desmonte progressivo do Estado –, os juros altos, a liberalização financeira e comercial, a política social “compensatória”, a manutenção (na melhor hipótese) do ritmo de conta-gotas na reforma agrária e assim por diante.

Novas ofensivas liberais poderão entrar em debate, visando formatar a agenda do primeiro ano do futuro governo (momento sempre mais propício para propor medidas que exijam maior colaboração do Congresso): uma nova rodada de reforma da previdência, uma reforma para reduzir direitos trabalhistas e novas medidas para “engessar” o orçamento público ao pagamento de juros estariam no começo dessa fila.

Para barrar essa nova ofensiva liberal será imprescindível um forte aumento da mobilização dos movimentos sociais já a partir de 2006. Oxalá uma candidatura presidencial que consiga agregar as forças francamente críticas à estratégia liberal ajude a catalisar essa mobilização.

(extraído do site www.correiocidadania.com.br)

Última atualização: 30/11/-0001 às 00:00:00
Versão para impressão Diminuir tamanho das letras Voltar Página inicial Aumentar tamanho das letras
 

Colunas

Versão em PDF

Edições Anteriores

Clique aqui para visualizar todas as edições do Nossa Voz
 

Rua Nossa Senhora dos Remédios, 85
Benfica • Fortaleza/CE CEP • 60.020-120

www.igenio.com.br