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25/01/2006

Nossa Voz - O sonho de um Nordeste melhor

Por um Projeto de Nação

Por um Projeto de Nação

Na história da luta de classes, a solidariedade e a organização dos trabalhadores  desempenham um papel relevante. Mas de que forma a atuação das associações e sindicatos contribui para o crescimento da sociedade como um todo? Para conversar um pouco sobre o assunto, convidamos o senador Cristovam Buarque (PDT). Segundo ele, a visão corporativista atrapalha a perspectiva global do país. Dessa forma, mais do que lutar pela garantia e ampliação de direitos, é preciso lutar para melhorar o Brasil como um todo.

Cristovam Buarque é engenheiro mecânico, formado pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1966, e doutor em Economia pela Sorbonne, Paris, em 1973. Entre 1973 e 1979, trabalhou no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em Washington, e desde 1979 é professor da Universidade de Brasília. Entre 1995 e 1998 governou o Distrito Federal e em 2002 elegeu-se senador pelo PT. Assumiu o Ministério da Educação (MEC) em janeiro de 2003 e permaneceu no cargo até janeiro de 2004. Filiou-se ao PDT em setembro de 2005. É membro do Instituto de Educação da Unesco.

Nossa Voz A AFBNB está completando 20 anos. Qual a importância do associativismo para as conquistas da sociedade civil?

Cristovam Buarque – Eu queria ressaltar a principal conquista que, por incrível que pareça, é também o principal defeito. A principal conquista é que o associativismo permitiu a defesa dos interesses de grupos que não são representados pela classe política em geral. O parlamentar representa o Estado; ele não representa os grupos sociais. Então esse associativismo de grupos sociais que se espalhou pelo Brasil – sindicatos, associações, movimentos internos – foi importantíssimo para enriquecer a vida social, promover uma ebulição que, se deixássemos só nas mãos do Congresso, não aconteceria. Ao mesmo tempo, isso tem um risco grande, pois acaba incentivando o corpo-rativismo e esses grupos acabam não tendo a perspectiva global do país.  No caso dos sindicatos, por exemplo; muitas vezes eles lutam pelos interesses de sua categoria, sem perceber que, ao fazer isso, podem estar sacrificando os interesses de outros.

Os funcionários do Banco do Nordeste também vivem este dilema. Como manter direitos sem ser corporativista?

É muito fácil resolver isso. É uma coisa maior que a Associação. Esse país é formado por uma aristocracia e uma plebe. É um país imperial. Eu e você, que somos associados, fazemos parte da aristocracia. A gente não percebe que a melhor maneira de beneficiar um grupo é melhorar o Brasil todo. Aí é que há uma contradição. Se a gente conseguisse melhorar a educação básica, por exemplo, os funcionários do Banco do Nordeste poderiam colocar seus filhos na escola pública – o que significaria uma redução de pelo menos 20% nos seus gastos. Se percebessem isso, veriam que as duas lutas são uma só. Melhorar a qualidade de vida do povo é melhorar a qualidade de vida desses grupos que formam as associações. Lamentavelmente a gente não consegue perceber isso. Há muitos sindicatos reivindicando que a empresa pague a escola dos filhos dos funcionários quando deveriam lutar para que o Estado melhorasse a escola pública. Nós somos hoje um país que, ao invés de luta de classes, nós temos luta de egoísmos. Nós perdemos o sentimento de nação. Não existe aquele pensamento: “eu vou me sacrificar porque o país vai ficar melhor”.

É possível ser solidário com a classe de baixa renda sem ser paternalista? Onde ficaria o limite entre a solidariedade e o assistencialismo?

É simples: lutar pelas reformas que esse país precisa. Para mim, o principal é a educação. Devemos lutar pela federalização da educação básica no Brasil. Ou seja, ao invés da educação básica ser municipal, ser federal. Para conseguir isto, só lutando pela mudança na prioridade do governo, para que ele invista mais na educação.

Que reflexão o senhor deixaria para os funcionários do BNB?

Que não esqueçam que não há futuro nesse país para nenhum segmento isolado do resto do Brasil. Aumentar o salário de um segmento, apenas, resolve provisoriamente o problema desse segmento, mas não resolve o dos seus filhos. Além disso, você vai comprar um carro melhor, mas ele vai ser assaltado; você pode ir de carro para o centro da cidade, mas não pode caminhar nas ruas; se você morrer, seu filho vai ficar desamparado, porque não tem escola pública de qualidade. A mensagem é essa: cada brasileiro está interligado nos outros. Então, quer melhorar a sua vida de uma maneira inteligente? Lute para melhorar a vida de todos os brasileiros. Senão é uma luta egoísta e burra. Eu hoje defendo o egoísmo, mas o egoísmo inteligente. É aquele que percebe que ele, muitas vezes, distribuindo parte do que tem, fica numa situação melhor do que se ficasse com essa parte para ele. O Brasil precisa despertar para esta consciência. O associativismo de grupos não vai trazer benefícios plenos enquanto a gente não tiver o associativismo de todos os brasileiros, enquanto a gente não tiver um Projeto de Nação.

Última atualização: 30/11/-0001 às 00:00:00
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