No Brasil, cujas perdas salariais se acumularam nos últimos anos, as taxas de juros estão entre as maiores do mundo e a alta carga tributária martiriza a população – sem a devida contrapartida às suas necessidades básicas –, nada mais comum que o crescente endividamento.
Mas será possível não se endividar em tempos de crise? O Nossa Voz conversou com Shandra Aguiar, administradora, integrante do Núcleo de Educação do Consumidor do Departamento de Economia Doméstica da UFC (atualmente concluindo o mestrado) para saber os motivos de tanto endividamento.
Para Shandra, o endividamento está profundamente ligado com o consumo. “Vivemos inseridos em uma sociedade capitalista, de consumo, que só visa o lucro. Quem produz não quer saber se o outro pode comprar ou se precisa daquele produto; ele quer é vender”, explica. Os apelos comerciais, a publicidade e a facilidade de crédito estimulam ainda mais o consumo desenfreado. Para ela, medidas extremas como o cancelamento do cheque especial, por parte de alguns bancos, são maneiras forçadas de frear o consumidor, quando na verdade seria necessário um trabalho educativo. “As pessoas precisam parar e refletir sobre questões como: eu consumo tudo de que preciso? Eu preciso de tudo que consumo? E pensar: estou endividado porque compro muito ou porque ganho pouco?”. A partir daí é possível rever prioridades.
Shandra explica que há dois tipos de endividados: aqueles cujos salários não suprem as necessidades básicas (um assalariado, por exemplo) e aqueles que ganham razoavelmente bem, mas consomem além do que deveriam. Para os dois, ela sugere a busca da chamada renda extra, que complemente o salário e o investimento em capacitação, que pode trazer melhores oportunidades de emprego. Para os segundos, especificamente, aconselha a revisão de prioridades e a adequação salarial - por exemplo, entre o melhor colégio particular da cidade e uma escola pública, na hora de matricular os filhos, há um leque de opções. Sem esquecer que a busca por melhores salários também deve ser perseguida sempre.
Para quem já está endividado, o empréstimo pode ser uma boa saída, desde que bem aproveitado. “Isso se você deve ao cheque especial, com juros de aproximadamente 7% ao mês e tem condições de fazer um empréstimo com juros mais baixos”, afirma.
Proposta – Para os funcionários do BNB, uma saída apontada é a repactuação das dívidas do Crédito Direto ao Consumidor (CDC) e do cheque especial, cuja proposta foi apresentada pelo Banco na última rodada de negociação (14/12). O funcionário poderá repactuar ambas as dívidas ou optar por uma delas. A taxa de juros será cobrada em função do prazo (de até 48 meses), podendo variar entre 1,8 a 2,8%.
A repactuação será operacio-nalizada para todos: ativos e aposentados, sendo estendida também a quem já fez composição da dívida nos últimos dois anos. A adesão deverá ser feita no mês de janeiro.
O Banco definiu o mês de novembro para considerar a dívida do cheque especial, ficando a critério do funcionário escolher o dia em função do saldo devedor que o favorecer. O cheque será mantido, mas com a redução do limite para R$ 200,00.
Outra reivindicação recorrente do funcionalismo foi finalmente atendida: o BNB vai suspender as parcelas de pagamento do empréstimo da CAPEF nos meses de janeiro e fevereiro de 2006 e também do empréstimo de férias (em fevereiro e março).
Já a isenção de tarifas continua em negociação. Pela proposta dos funcionários, o Banco cobraria juros não superiores a 1% nas operações de cheque especial, empréstimos e cartão de crédito. |