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09/09/2005

Nossa Voz - Especial 28ª Reunião do Conselho de Representantes

Soja com gosto de sangue

Soja com gosto de sangue

Judson Barros
Presidente da Fundação Águas (FUNAGUAS) e
membro da Articulação Soja Brasil

Eu não esperava ser convidado como palestrante para o evento promovido pela AFBNB nos dias 26 e 27 de agosto, cujo tema foi “Planejamento e Desenvolvimento Regional: Por um BNB Forte”. O que pensamos como desenvolvimento não tem agradado muito aos governos. Mas o convite aconteceu e assim fui com o intuito de dar o recado de quem há décadas observa que o modelo utilizado no nosso País é inviável social e ambientalmente.

Tomei como base para fazer as argumentações a minha vivência no cerrado do Piauí com o agronegócio da soja. Aí está um modelo que acompanhamos desde seus primeiros momentos nas décadas de 70 e 80 até atualmente e temos tentado demonstrar ser pouco apropriado. Prima pela falta de responsabilidade com o meio ambiente natural, levando a natureza a um nível de degradação insuportável, não observa os aspectos sociais promovendo em larga escala a exclusão social, causa grande prejuízo na arrecadação do Estado. No nosso modo de ver, é demasiadamente insustentável.

Para minha surpresa, a pasta que recebi com o material do encontro estampava: “O NEGÓCIO DO BNB É O DESENVOLVIMENTO”. Até hoje o questionamento paira na cabeça deste sertanejo: “Será que foi engano ou proposital a falta do vocábulo SUSTENTÁVEL? Ou não é mesmo preocupação do BNB enquanto agente financiador deste processo de desenvolvimento?” Não houve tempo nem espaço para que colocássemos essa questão a limpo. Espero que o BNB, no próximo slogan, não esqueça do valor do sustentável. É consciência corriqueira que é bem mais fácil preservar que recuperar.

Somos a favor do desenvolvimento do Piauí e do Brasil. O que questionamos é a forma, o modelo que é empregado para promover esse “desenvolvimento”. Os discursos por parte dos representantes dos governos não podem ser somente instrumentos de retórica, de pura falácia. Há uma necessidade urgente no que diz respeito ao Desenvolvimento Sustentável que o discurso tenha sintonia com a ação. Mais do que nunca falamos da necessidade de preservação do meio ambiente.

Vemos todos os dias os Tsunamis e Katrinas e isto parece não nos comover. No Estado em que vivo, o Piauí, a situação anda na contra mão: aqui desmatam e matam em larga escala para plantar soja, com a finalidade de preparar ração para alimentar porcos, bois e galinhas nos países desenvolvidos, fornecer lenha para o funcionamento de multinacionais; envenenam os rios e riachos com agrotóxicos eliminando toda a possibilidade vida nestes habitats. 

Mas o grande questionamento é: Desenvolvimento para quê e para quem? No agronegócio da soja no Piauí não é demais afirmar que poucos se beneficiam. E as implicações deste modelo são inúmeras, vejamos algumas: a grilagem de terras, que promove o êxodo rural, inchando as periferias das cidades, acarretando grandes problemas sociais. A geração de renda e emprego, quer direto ou indiretamente, é mínima, pois o agronegócio se utiliza de alta tecnologia nas fábricas e nos campos, onde gera apenas um posto de trabalho para cada 280 hectares beneficiados. Muitas fazendas ainda se utilizam de trabalho escravo, na limpeza da terra, na pulverização de agrotóxicos e na corta da lenha.  

Por tudo isso afirmamos que a soja do Piauí tem gosto de sangue dos homens e mulheres que moram no cerrado; das emas, dos tatus, das cotias, de todos os bichos. Tem sangue das árvores, dos peixes dos rios, riachos e córregos. Enfim, tem a vida de um povo que não tem voz para falar, pois a mordaça não permite...

Última atualização: 30/11/-0001 às 00:00:00
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