Fale Conosco       Acesse seu E-mail
 
Versão para impressão Diminuir tamanho das letras Voltar Página inicial Aumentar tamanho das letras


17/08/2005

Nossa Voz - Crise política e defesa do BNB

As ameaças ao FNE

As ameaças ao FNE

Só aumentar os juros reais não é suficiente. Tem de garantir superávit primário. Foi assim que o governo brasileiro passou a adotar a meta de superávit primário para o setor público consolidado. Para atingir as metas, o governo corta as despesas – comprimindo o custeio e inclusive ficando dispensado de parte dos gastos obrigatórios, como no caso da desvinculação de receita (DRU) – e aumenta a carga tributária.

Enquanto isso, tramita no Senado Federal o projeto de lei, já aprovado na Câmara dos Deputados, de recriação da SUDENE. Lá, na Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo (CDR), o senador Antônio Carlos Magalhães apresentou substitutivo em que, entre outras coisas: autoriza o BNB a criar, nos moldes do BNDESPAR, o BNBPAR, que utilizaria recursos do FNE; cria o Fundo de Desenvolvimento do Nordeste – FDNE, que poderá ter como fonte aportes do FNE; as disponibilidades financeiras do FNDE ficariam depositadas na Conta Única do Tesouro Nacional; além disso, o BNB não é nomeado, como aprovado na Câmara, operador do FNDE.

Os dois temas, polêmicos, ameaçam o FNE. Para falar sobre eles, convidamos o economista Cláudio Ferreira Lima, aposentado do BNB e coordenador-geral de Planejamento do DNOCS.

Nossa Voz – Como o déficit nominal zero pode afetar os recursos do FNE?
Cláudio Ferreira Lima – Não conhecemos ainda os desdobramentos da crise que atravessamos. De todo modo, na tentativa de superá-la, serão colocadas propostas na mesa. O deputado federal Delfim Neto (PP-SP) já se adiantou e apresentou uma delas: o déficit nominal zero. Nela, se prevê mexer na Desvinculação da Receita da União (DRU) - dos atuais 20 para 40%. Com isso, o governo teria à sua disposição mais receitas, que deveriam ser gasto social, livres para pagar os juros. Os fundos constitucionais, como o FNE, são uma vinculação orçamentária e poderão ser afetados, conforme os desdobramentos da conjuntura - embora na proposta de Delfim não se fale em tocar neles. E olhe que os governadores vão propor, para terminar com a “guerra fiscal”, o Fundo de Desenvolvimento Regional (FDR) formado por 2% sobre a arrecadação do Imposto sobre a Renda (IR) e o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), justamente a mesma base dos fundos constitucionais. Mais uma ameaça.

Pela proposta de Delfim Netto, haveria o congelamento dos gastos sociais nos próximos seis anos. Que repercussão isso traria para a população de um modo geral?
A conseqüência será a diminuição mais acentuada ainda dos recursos para previdência social, benefícios a servidores, saúde, educação, habitação e saneamento e daí por diante. Como se vê, uma redução brutal de qualidade de vida para banquetear apenas 4% da população brasileira.

Um dos objetivos de Delfim é reduzir a taxa de juros. Quais alternativas poderiam ser adotadas sem sacrificar a área social?
Segundo Delfim, na medida que se caminha ao longo de seis anos em direção ao déficit nominal zero, haverá uma trajetória descendente da relação dívida/PIB, que fará os juros cederem. Causalidade questionada por alguns economistas. Para estes, são os aumentos ou reduções da taxa de juros que levam a aumentos ou reduções na razão dívida/PIB. Para outros economistas, o déficit nominal zero poderá ser conseguido já em 2008 com menor esforço, bastando para isso se manter o atual nível de 5% de superávit primário. Um mal menor. Só há o caminho da chamada “disciplina de mercado” para baixar os juros e retomar o crescimento? Claro que não. Este é o do “campo majoritário”, do pacto de poder no Brasil, isto é, de banqueiros, rentistas e, enfim, da minoria privilegiada. Outro caminho, que interessaria à maioria da população brasileira, não é ainda capaz de produzir vontade política. Ele estaria fora da “disciplina de mercado”, pois implicaria intervenção do Estado para, entre outras coisas, se controlar a fuga de capitais e a flutuação do câmbio.

Como o substitutivo apresentado pelo senador ACM para a recriação da Sudene pode afetar o FNE?
É preciso chamar a atenção, primeiro, para a criação do BNBPAR, que utilizará recursos do FNE; depois, para o Fundo de Desenvolvimento do Nordeste – FDNE, que poderá ter também como fonte aportes do FNE. Além do mais, o BNB não figura como depositário das disponibilidades financeiras do FNDE, que ficarão na Conta Única do Tesouro Nacional - nem é nomeado, como foi no projeto aprovado na Câmara, operador do FNDE.

O que é possível fazer para fortalecer o BNB e evitar que medidas como essas sejam aprovadas?
Em qualquer hipótese, é crucial que o BNB se mantenha cada vez mais integrado com os outros organismos regionais, como DNOCS, CHESF e CODEVASF – proximamente, com a nova SUDENE -, bem assim com o INCRA, a EMBRAPA, entre outros, com os governos estaduais e municipais, universidades, movimentos sociais e representação dos empresários e trabalhadores. Precisa, enfim, atuar de forma integrada, em rede. O Banco pode multiplicar as aplicações, mas se não houver integração com o restante da cadeia, digamos, econômico-social, nenhum projeto dará bons frutos. Uma andorinha só não faz verão. Da mesma forma, um órgão só não faz desenvolvimento. Pois bem: é essa integração, no final de contas, que legitimará e fortalecerá institucionalmente o BNB, obstaculando a aprovação de medidas que tragam prejuízos a ele próprio e ao desenvolvimento regional.

Última atualização: 30/11/-0001 às 00:00:00
Versão para impressão Diminuir tamanho das letras Voltar Página inicial Aumentar tamanho das letras
 

Colunas

Versão em PDF

Edições Anteriores

Clique aqui para visualizar todas as edições do Nossa Voz
 

Rua Nossa Senhora dos Remédios, 85
Benfica • Fortaleza/CE CEP • 60.020-120

www.igenio.com.br