O Desenvolvimento Sustentável no Nordeste do Brasil
Manuel Viana Aposentado (téc. Agropecuária). Dedicou sua formação ao agronegócio.
A grande maioria dos agricultores da região Nordeste continua desenvolvendo uma agricultura arcaica e rudimentar. Enquanto eles não puderem introduzir inovações para eliminar essas ineficiências e aumentar seus baixos rendimentos será virtualmente impossível que se tornem rentáveis e competitivos. Já que não existem subsídios para compensar essas distorções, os agricultores terão de eliminá-las ou aceitar que elas os expulsem do campo. No entanto, não é suficiente que as referidas inovações sejam apenas tecnológicas e que sejam introduzidas somente na etapa de produção propriamente dita. É necessário adotar inovações tecnológicas gerenciais e organizacionais e, além disso, fazê-lo em todos os elos da cadeia agro-alimentar.
A necessidade de que os agricultores sejam muito mais eficientes, como requisito para se tornarem rentáveis e competitivos, está fora de discussão. O problema reside em “como” e “com que” fazê-lo. Infelizmente, as tentativas empreendidas com esse propósito nas últimas quatro décadas, nos países da América Latina e do Caribe, demonstram que é virtualmente impossível consegui-lo através do modelo convencional de desenvolvimento agropecuário. Os governos, ainda que desejassem, não disporiam de recursos suficientes para oferecer todos os fatores clássicos de modernização: créditos, insumos de elevado rendimento, animais de alto potencial genético, equipamentos modernos, obras de infra-estrutura, subsídios, políticas de garantia de preços mínimos e de comercialização etc.
Nas atuais circunstâncias do País (enxugamento da máquina do Estado, restrição de crédito, eliminação dos subsídios etc.) não existe nenhuma possibilidade de que os agricultores possam desenvolver-se, se continuarem tentado fazê-lo através do referido modelo convencional. A eqüidade é incompatível com o modelo vigente e insistir nele significaria seguir desperdiçando tempo e recursos cada vez mais escassos, criando falsas expectativas nos agricultores e postergando a solução dos seus angustiantes problemas.
A agricultura dos tempos modernos já não está submetida a improvisações emergenciais. É perfeitamente possível promover hoje a tecnificação da agricutura em favor de todos os produtores, apesar da crise, mesmo que a terra e os demais recursos de capital sejam escassos, mesmo que o crédito e os insumos sejam limitados e a relação insumo/produto se apresente desfavorável. Definitivamente, é necessário revalorizar o setor agropecuário e rural, discriminar positivamente a agricultura e muito especialmente os pequenos agricultores.
É um equívoco afirmar que a modernização da agricultura está sempre e necessariamente condicionada às disponibilidades de créditos, maquinária de alto rendimento e tecnologia de ponta, e que sem elas não é possível corrigir as distorções produtivas e gerenciais existentes nos distintos elos da cadeia agro-alimentar.
De pouco servirão as promessas cada vez mais distantes e impossíveis de macrodecisões políticas de âmbito nacional se dentro das propriedades, por falta de adequadas medidas tecnológicas e gerenciais, os agricultores continuarem a produzir excedentes muito pequenos e de má qualidade, obtê-los com baixos rendimentos e, conseqüentemente, com altos custos unitários de produção e ter grandes perdas na colheita e posteriores a ela.
Se os agricultores não se organizarem para conquistar uma maior superfície de terra, se continuarem mantendo 20% dela improdutiva, se não a utilizam durante todo o ano, se não adotarem tecnologias apropriadas que elevariam os seus rendimentos, se permitirem que ocorram perdas durante e depois da colheita é evidente que a escassa terra será insuficiente e pouco produtiva.
O Estado, ante a real impossibilidade de fazer tudo por todos, porém consciente de que necessita oferecer um mínimo de oportunidade de autodesenvolvimento à totalidade dos agricultores, deveria fixar prioridades de forma estratégica, e isto recomenda concentrar o esforço e os escassos recursos do governo para auxiliar o desenvolvimento sustentável da região. |