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04/05/2005

Nossa Voz - Representantes debatem Transposição

“Velho Chico” – a Transposição da morte

“Velho Chico” – a Transposição da morte

 

*Antonio Jackson Borges Lima (Aposentado. É diretor fundador do Museu Ambiental Casa do “Velho Chico” e Secretário Municipal de Meio Ambiente e Turismo de Traipu-AL)

 

 

“Deslocamento de material genético de uma posição no genoma para outra” é a definição de transposição no campo da bioquímica. Usando esta mesma definição de uma forma metafórica e considerando como genoma todo o nosso Polígono das Secas, onde todos estamos inseridos, vítimas do mesmo fisiologismo, na prática o que estamos deslocando ou transpondo da Bacia do São Francisco para o Nordeste Setentrional, é a nossa vida. É a nossa subnutrição física e mental alimentadas pelos conta-gotas dos programas sociais do governo. É o nosso conformismo com a realidade da miséria, apesar da grandeza ambiental que nos cerca, concentrada nas mãos de poucos, sem gerar nenhuma renda, por falta de investimentos e apoio governamental. É a fragilidade da nossa cidadania, negociada nas bolsas de valores do voto, nos períodos eleitorais. É a nossa amnésia desrespeitosa com a prática do civismo, sempre em busca de vantagens pessoais. É o nosso medo mórbido de protestar contras as injustiças e a corrupção. É a nossa subserviência aos interesses dos coronéis da política. É a nossa esperança teimosa, de dias melhores, sustentada no milagre da fé em meu “Padinho Ciço” e na cuia de farinha, incerta. É o difícil cotidiano de peregrinação pela vida, retratado nos baixos Índices de Desenvolvimento Humano – IDHs – do nosso Vale do São Francisco.

 

A miséria, apesar dos recursos hídricos, tem sido a nossa marca maior. Para produzir energia elétrica, beneficiando 40 milhões de nordestinos e impulsionando todo o seu parque industrial, fizeram submergir, nas águas dos grandes lagos represados, um pedaço da nossa história e da nossa cultura, desabrigando, de forma injusta e humilhante, milhares de ribeirinhos. Com a construção das inúmeras barragens, acabaram com a nossa tradicional cultura do arroz, sustentáculo econômico de toda uma população, no Baixo São Francisco, e exterminaram a nossa produção pesqueira, responsável pela formação universitária de muitos filhos de pescadores, entregues hoje à própria sorte.

O atual governo é cínico, porque mente; é ditador, porque não respeita as instâncias decisórias; e é irresponsável, porque utiliza dinheiro público de uma forma extremamente polêmica e aventureira, privilegiando uma parte do nosso Sertão, quando aqui, bem pertinho do rio, de forma contraditória e inexplicável, a seca vai destruindo tudo, sob o olhar de omissão e cumplicidade dos históricos e hereditários exploradores da indústria da seca.

 

Levar água para Fortaleza, no Ceará, a 2.000 Km de distância, pode até ser justo. O que não é justo é o povo barranqueiro, do nosso querido “Velho Chico”, que mora próximo de suas águas, ao longo da região do semi-árido, continuar dependendo do carro pipa para saciar sua sede e da chegada da chuva incerta para produzir algum alimento, numa luta constante e incansável pela sobrevivência, tão igual ou pior quanto a dos nossos irmãos do Sertão da Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. A decisão histórica está nas mãos do Presidente Lula, a quem já podemos responsabilizar pela morte prematura do nosso saudoso e querido José Theodomiro de Araújo, ícone maior e inigualável de conhecimento e amor ao Rio São Francisco, cujo coração não suportou tamanha traição presidencial, mudando, como tem mudado em tudo, inclusive na defesa da transposição da morte.

Última atualização: 30/11/-0001 às 00:00:00
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