Sobre Planos de Cargos e Salários
* Lydia Brito Consultora na área de Recursos Humanos
É ingênuo pensar que a implantação de um Plano de Cargos e Salários envolva apenas as questões técnicas de construção do plano dentro de determinados modelos administrativos; ou a boa vontade de um representante de uma empresa em estabelecer “relações amigáveis” com as entidades representativas dos empregados.
O mundo da experiência vivida pelos homens dentro e fora das empresas é apenas a aparência das relações de classe construídas no modo de produção capitalista, cuja lógica é a acumulação de capital nas mãos da burguesia. Um modo de produção baseado na sociedade de classes: a classe capitalista, com seus aparatos estatais e institucionais, que detém o capital, os objetos de trabalho e os meios de produção e que explora o trabalho para obter mais-valia, lucro, sobrevivência e expansão; e a classe trabalhadora, que vende sua força de trabalho mediante um salário. Classes, portanto, com interesses antagônicos e complementares – só existe dominador porque existem dominados. Classes permanentemente em confronto explícito ou implícito. Um Plano de Cargos e Salários, assim, é o ponto nevrálgico das relações entre capital e trabalho, por balizar os avanços e recuos de cada parte envolvida num campo de luta. Campo este muito maior que o espaço de uma empresa ou até de um país pois, com a mundialização do capital, as regras das relações de trabalho – e conseqüentemente do salário – são ditadas pelo próprio capitalismo e pelos países que concentram o poder econômico e político.
Nas últimas décadas, o trabalhador vem perdendo cada vez mais os espaços de luta adquiridos no início do século XX, na medida em que as ferramentas clássicas de confronto explícito, como paralisações e greves, foram se mostrando ineficazes e na medida em que o capital foi criando seus mecanismos de defesa, tais como: apropriação da ciência e tecnologia, desmonte dos direitos do trabalhador, terceirização, precarização das relações de trabalho, intensificação da disseminação de sua ideologia e desemprego, para garantir o sistema funcionando. Ao mesmo tempo, este é um momento de grandes paradoxos, pois nunca as empresas precisaram tanto da inteligência e sensibilidade do trabalhador para garantir o lucro e a expansão.
Portanto, cabe ao trabalhador usar toda a sua inteligência, sensibilidade e criatividade, hoje mobilizada apenas para os interesses do capital, no sentido de ampliar seus espaços de luta coletiva para obtenção de seus próprios interesses. É necessária uma mobilização; organização e ações concretas no sentido de reconhecer de forma crítica a situação; reinventar ou abandonar velhas práticas; identificar os pilares de sustentação da atual configuração das relações de trabalho; descobrir como se apropriar da ciência; tecnologia, métodos de trabalho e informações; reverter o desmonte dos direitos do trabalhador; denunciar e abolir a terceirização; se apropriar, confrontar e desmontar a ideologia burguesa; criar e disseminar sua própria ideologia de classe; traçar rumos; agir coletivamente e, principalmente, reconhecer-se como trabalhador e libertar-se dos predicados burgueses calcados no individualismo, conformismo e vaidade. Quem quer ser o primeiro? É possível, dentro do paradigma vigente, o avanço das questões do trabalho? Como e qual a nova sociabilidade a ser construída? |