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11/02/2005

Nossa Voz - PCS: Presente de grego?

Crédito oficial e os juros no Brasil

Crédito oficial e os juros no Brasil

Um estudo sobre as causas das altas taxas de juros brasileiras foi apresentado no ano passado pelos economistas André Lara Resende, Edmar Bacha e Pérsio Arida – os teóricos do Plano Real. Segundo eles, um dos motivos que levam o país a apresentar juros tão altos são os créditos oficiais oferecidos pelos bancos públicos a setores específicos, como agricultura, habitação etc. Os economistas defendem, dentre outras medidas para baixar os juros no Brasil, que estas linhas de crédito passem a ser operadas por instituições privadas.

Preocupada com este tipo de pensamento econômico, que ganhou as teses e estudos acadêmicos no ano passado, a AFBNB entrevistou o economista Alfredo Oliveira. Formado em Economia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Economia também pela UFC e doutorando em Política Econômica pela UNICAMP, o economista não concorda com a teoria. Confira abaixo:

Nossa Voz – O sr. concorda com a tese dos teóricos do plano real de que uma da causas dos juros altos no Brasil é o crédito dirigido aplicado pelos bancos oficiais?

Alfredo Oliveira –
Taxas de juros altos não tem nada a ver com crédito para pequenos negócios, crédito para habitação, ou seja, esse chamado crédito oficial, que é aplicado pelo BNB, BNDES, BASA etc. Infeliz seria a nossa economia se não fossem esses recursos.

Nossa Voz – E porque juros tão altos no país?

Alfredo Oliveira – Acredito que existem vários componentes para os juros serem elevados no Brasil, dentre eles um mercado de capitais não desenvolvido, que faz com que a oferta de crédito seja muito pequena, favorecendo uma formação de oligopólios no setor.

Nossa Voz – O estudo em questão também defende que os recursos aplicados pelos bancos públicos devem ser operados pelos bancos privados. Esta seria uma maneira de baixar as taxas de juros brasileiras. O sr. acredita nesta saída?

Alfredo Oliveira – Os bancos privados não têm rigor nem aporte para praticar taxas de juros baixas como um banco oficial. A experiência brasileira e mundial mostra isso. São os bancos públicos quem fomentam a economia. É assim no mundo todo.

Nossa Voz – Qual sua opinião sobre crédito dirigido (de longo prazo e com taxas abaixo do mercado)? Ele ainda é necessário?

Alfredo Oliveira – Claro. Você pega a agricultura européia, ela é subsidiada; a agricultura americana é subsidiada. Você observa setores estratégicos das economias desenvolvidas no mundo e eles são subsidiados. Então, porque no Brasil isso não pode acontecer. Na verdade, pode e deve. Devemos dar um tratamento diferenciado aquele setor que é estratégico e competitivo na economia brasileira.

Nossa Voz – É o caso do FNE? O sr. acha que o Fundo cumpre esse papel de oferecer tratamento diferenciado a setores estratégicos no Nordeste?

Alfredo Oliveira – Há um preconceito muito grande dos ‘sulistas’, vamos dizer assim, de ser contra qualquer tipo de fundo que vá financiar o desenvolvimento de regiões mais pobres. Isso porque este tipo de visão defende aplicações mais fortes em estados menos desenvolvidos como Ceará, Piauí... em detrimento de um estado desenvolvido como São Paulo. Mas o FNE é um fundo auto-sustentável. O que precisou foi um aporte inicial, mas este dinheiro volta e se sustenta ao longo dos anos. Então eu acho que o FNE é importante ainda e deve continuar sendo aplicado por um banco público – pelo BNB – cumprindo seu papel de desenvolver esta região menos favorecida na hierarquia capitalista brasileira, que é o Nordeste.

Nossa Voz – Então, o que pode ser feito para reduzir as taxas de juros no Brasil?

Alfredo Oliveira – Temos que resgatar o que leva o país a ter juros tão altos. Aí, você tem dois vetores que são interligados na chamada economia do capitalismo maduro: um é o câmbio e o outro são os juros. Você não pode desvincular os dois. Os juros podem estar sendo uma peça para segurar a estabilidade do câmbio. Por outro lado, o país precisa refinanciar a sua dívida, que está muito alta, e os juros também podem estar cumprindo este papel.
Agora, tem uma série de outros componentes na formação dos juros – taxa Selic, taxa de longo prazo, taxa de curto prazo – que vão acabar num componente que oprime o crescimento do país e do mercado interno, que são os juros ao consumidor.
Então, no final, na hora de pensar em baixar os juros, você percebe que isso passa pelo refinanciamento de dívida brasileira e por uma série de outros fatores. Na verdade, você tem sempre uma troca nessa economia: baixam-se os juros e tem inflação alta; baixam-se os juros e tem papéis desvalorizados. É um dilema que vive a economia brasileira e uma lógica que só pode ser quebrada paulatinamente.

Última atualização: 30/11/-0001 às 00:00:00
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