Por que a participação é importante
* JOSÉ ALCI LACERDA DE JESUS Representante da AFBNB na Área de Políticas de Desenvolvimento do BNB
A greve dos bancários, em 2004, em especial no BNB, foi importante para o processo democrático e o fortalecimento de nossas entidades. Agora, é importante que possamos fazer algumas reflexões sobre aquele momento e suas conseqüências.
Era comum àquelas pessoas que não participavam da greve baixarem as cabeças, com comedido acabrunhamento, espelhando certo constrangimento; mas também, irromperem, de forma desmedida, mesmo que raro, à frente das faixas e dos piqueteiros. Muitos externavam: “olha, eu respeito o movimento”; “queria estar com vocês”; “poxa, tenho um trabalho urgente”; “eu estou chefe” e outras desculpas mais. Chegava a ser natural: vocês fazem a greve, é democrático; eu não faço, também é democrático. Afinal, então, o que é democrático?
Será a democracia algo diferente da vontade livre, autônoma, independente, das pessoas escolherem, após debate, nas casas representativas de suas entidades, quais os caminhos desejam que sejam seguidos; e compreendam, respeitem e se submetam à decisão da maioria, obtida por meio do voto?
É nessa perspectiva que não podemos perder a chance de, a partir da greve histórica que todos vivenciaram, tanto os que estavam à luta como aqueles que permaneceram no banco de reservas, promover a reflexão e a ação, no intuito de fazer prevalecer, de fato, o processo democrático, o qual deve ser a nossa maior conquista e o nosso mais forte pilar, fincado, cada vez mais fundo, nesses novos tempos.
Talvez não houvesse dúvidas quanto a sermos democráticos se cada um de nós tivesse, de fato, responsabilidade quanto às nossas reivindicações; tivesse clareza quanto àquilo que foi pedido ser justo e razoável; compreendesse que é necessário canalizar os diversos comentários e insatisfações dos corredores do Banco para o espaço do debate de nossas instituições representativas e, principalmente, alimentasse essas instituições com nossa mobilização, disposição de luta e participação. E é isso que deve ser feito de forma orgânica, pois nos fortalece enquanto grupo, dá vida às nossas instituições representativas e nos leva a conseguir o que é o melhor na correlação de forças.
É importante aproveitar esse momento profícuo pós-greve, em que várias pessoas tiveram oportunidade de se colocar e de se reunir, e de perceber que é possível aglutinar idéias e forças, e caminharmos juntos, para avançar nas questões específicas, mas também além delas. Nesse sentido é preciso que, de imediato, possamos trazer à tona a discussão de questões mais amplas, como o desenvolvimento de nossa Região.
Esse debate também exige dos funcionários um maior grau de responsabilidade na medida que fazem a AFBNB e devem ajudar para que a Associação tenha força, não só para encaminhar a discussão desse tema e de outros relacionados a ele, mas capacidade de influir, de forma articulada, na aplicação de ações concretas.
Nesse sentido, a greve, como dito por muitos, foi (é) uma escola. E a escola foi amplamente aberta e está repleta de rebentos desejosos por contribuir com ações concretas e compartilhar resultados. Tudo é experiência e gera conhecimentos que fortalecem nossas mentes e corações, e nos torna ávidos por viver processos democráticos. Somente por isso, poderíamos considerar nossa greve totalmente vitoriosa. Mas é fundamental compreender que a greve nos despertou, de forma objetiva, para a participação e busca da democracia, o que implica, principalmente, para os funcionários do BNB, o resgate de nossa identidade e acende ainda mais o nosso desejo de promover o desenvolvimento da Região, com mais igualdade e justiça social. |