Greve no BNB: Perdas e Ganhos
A Campanha Salarial deste ano marcou a história do movimento sindical bancário, que teve de enfrentar grandes desafios. Para falar sobre este momento, o Nossa Voz conversou com Deoclides Cardoso Oliveira Júnior, diretor do Sindicato dos Bancários da Bahia e membro da Comissão Nacional dos Funcionários do BNB (CNFBNB). Nesta entrevista, ele fala sobre a importância do engajamento dos funcionários do BNB na greve.
Nossa Voz – A greve é o último instrumento de luta dos trabalhadores para fazer valer as suas reivindicações. No caso dos bancários do BNB, qual foi o diferencial da campanha salarial 2004?
Deoclides – Neste ano, o funcionalismo estava determinado a conquistar a reposição das perdas históricas sofridas nos últimos oito anos, já que a administração anterior sequer recebia a representação dos funcionários para negociar. Outro fator foi o acordo desfavorável do ano passado, que além de não recuperar as perdas ainda foi o mais rebaixado, em comparação aos outros bancos. Por isso entramos na greve com todo vigor, paralisando o maior número de funcionários e agências em toda a história do BNB. Nesse contexto, a determinação dos benebeanos foi marcante, pois a maioria fez questão de ficar no lado de fora das unidades, para demonstrar o grau de insatisfação com a Direção do Banco e com o governo federal.
Nossa Voz – A AFBNB e os sindicatos receberam algumas denúncias de pressão sobre funcionários grevistas, que eram chamados para participar de reunião na agência e lá eram convocados a voltar ao trabalho. Como você analisa esta prática?
Deoclides – Na verdade, esse tipo de ação foi pontual e partiu dos próprios gestores de algumas agências, não de orientação do Banco. Recebemos denúncias do Maranhão e do Piauí, onde alguns gestores se utilizaram de manobras e pressões. Mas, no geral, a Direção do Banco respeitou o movimento grevista. A ameaça de corte no ponto sempre acontece toda greve, sendo um dos pontos principais negociados para o fechamento do acordo.
Nossa Voz – Com a conclusão das negociações, a maioria dos sindicatos com o BNB na base aceitou o acordo. No seu entendimento, que ganhos políticos e financeiros os benebeanos tiveram com esta greve?
Deoclides – No nosso caso, o ganho político foi bem maior que o ganho financeiro. Reconhecemos que o acordo ficou aquém da expectativa do funcionalismo. A nossa cesta-alimentação, por exemplo, ficou reduzida a 75% do valor oferecido pela Fenaban [Federação Nacional dos Bancos]. Mas em se tratando dos ganhos políticos, a mobilização dos funcionários foi a maior demonstração da força do nosso movimento. É inegável que os avanços conseguidos foram fruto da greve. E mesmo sem tantos ganhos econômicos, os funcionários do BNB saíram de cabeça erguida, prontos para novas lutas. |